Há 35 anos atrás, em Portugal, estas canções não podiam ser passadas na rádio:
(do Álbum de 1971 “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”)
Letra: Natália Correia (1923-1993)
Música e interpretação: José Mário Branco (1942- )
Queixa das Almas Censuradas
Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte.
(do Álbum de 1963, "Trova do vento que passa")
(do Álbum de 1963, "Trova do vento que passa")
Letra: Manuel Alegre (1936- )
Música e interpretação: Adriano Correia de Oliveira (1942-1982)
Trova do Vento que Passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das água
se os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
...e Portugal ansiava escutar esta canção...
Letra, música e interpretação: Ermelinda Duarte
Somos livres (Uma gaivota voava, voava)
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia,
crescia, grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia,
dizia"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
Amanhã será outro dia!!!
Parabéns pelo forte e importante
ResponderEliminarpost que aqui deixam!
Belíssimo!
Ñ sou um "animal político",mas sei por onde quero ir.E sei,MUITO BEM,
por onde ñ quero.Admiro Salgueiro
Maia e todos aqueles que lutaram uma VIDA para que se desse o 25 de
Abril.Admiro e respeito profundamente.
Ficou muito bem esta homenagem.
Beijoo.
isa.
' Olá amigo...
ResponderEliminarBelo post, muito belo mesmo...
Passando pra deixar meu carinho e te agradecer por sua visita ao meu blog...
Tenha um ótimo final de semana \\*
bjoo's no ♥
Josy*
Parabéns Tétis. Que maravilha de
ResponderEliminarPost. Tanta informação importante,
para que os jovens não caminhem para tráz. Que nunca reneguem o 25 de Abril, como aqueles infelizes
que renegaram o Olocausto.
E a vida continua.
Obrigado pela lembrança.
Beijo
Querida Tétis,
ResponderEliminarObrigada por recordares a Esperança, a Alegria daqueles que viveram um dia único, mas, e é pena que até nesta situação haja um "mas" quanta desilusão, quanta esperança perdida.
Tétis, não posso ser feliz quando no meu país tenho CADA VEZ MAIS gente com fome, gente desesperada, quando o desemprego sobe a cada dia que passa, quando os jovens estão sem rumo, sem esperança.
Espero que não me consideres demagoga~: sóu apenas LÚCIDA!
E cara Amiga, sejamos honestos, estas situações não se devem só à crise, que é real, mas é de AGORA!!!
Embora talvez não acredites, sou 100% apolitica, só me preocupo com a justiça social, só isso.
Bjs amigos
Sua postagem é linda!
ResponderEliminarTrouxe a emoção na letra das belas canções!
Desejo para você um belo fim de semana
Um beijo e muito carinho
Tetis
ResponderEliminarHoje o dia é mesmo assim... Deixo com carinho...
LIBERDADE
Liberdade…
Felicidade de ser…
Felicidade de estar…
Felicidade de saber ser…
Cortar amarras…
Deixar prisões…
E alargar o amor…
Para vencer a liberdade…
Ser livre e livre…
Estar solto…
E saber dar valor…
Ao melhor…
Que a vida lhe deu…
E que é tão pouco..
Pois é apenas…
A sua Liberdade…
Lili laranjo
Parabéns Portugal.
ResponderEliminarMañan, Tétis, ti, Árgos e Poseidón, estades invitados a:
Se o ano pasado foi teatro, iste será algo moi representativo de Portugal: os Fados. Haberá, pois, unha sesión de Fados que abordarán as melodías tradicionais, como as máis contemporáneas, pasando polos poemas de carácter revolucionario e de denuncia socio-política.
O acto terá lugar o sábado 25 de abril ás 22:30 no Fórum Metropolitano da Coruña coa intervención de Jaime Martins (viola), Estevão Lima (guitarra portuguesa) e Sara Vidal (voz e integrante do grupo folk Luar Na Lubre).
Entendo que estades de festa, pero sexa como sexa, un brindis por Portugal, arriba ese "Oporto".
Bikiños
Obrigada Isa.
ResponderEliminarO teu post de homenagem ao 25 de Abril, com a foto do Salgueiro Maia em destaque, também está "belíssimo".
Como diria o meu amigo Poseidón, yo támpoco sou um "animal político". Se queres saber a verdade (e já deves ter visto que eu digo o que penso e sinto), a política e os políticos "enojam-me"!...
Temos, no entanto, de dar valor a quem o tem e importância e relevo às situações que marcaram a nossa história e bem assim as nossas vidas.
Beijos
Olá Josy
ResponderEliminarObrigada por passares pelo nosso blog e deixares o teu simpático comentário.
Passaremos sempre que pudermos pelo teu blog.
Abraços
Olá "Mestre"
ResponderEliminarTens toda a razão, é necessário que os jovens, e não só, não caminhem para trás. Até porque "para a frente é que é o caminho"!...
Isto é história, é o nosso passado e, seja bom ou mau, não podemos de forma alguma renegá-lo.
Beijo
Querida Teresa
ResponderEliminarPerfeitamente de acordo contigo em tudo que dizes.
Quanto à política, o que quero é distância pois, como já disse à amiga Isa, tudo que é política e políticos "enoja-me"!...
Também eu não me sinto feliz neste "jardim à beira mar plantado" que poderia ser belo, alegre, agradável, quase paradisíaco... mas, infelizmente tudo o que temos é aquilo que dizes, um lugar de injustiças, desigualdades, desespero, fome e miséria. E a esperança, que dizem que é a última a morrer, por acaso alguém a viu por aí?
Afinal foi para isto que houve o 25 de Abril???
Beijos.
Olá Tatiana
ResponderEliminarObrigada por teres vindo e deixado o teu comentário.
Sim, as canções são lindas, embora fortes e bem marcantes duma época.
Muito carinho também para ti.
Lili,
ResponderEliminarMais um presente lindo que nos oferecesses, a tua sempre bela poesia.
A tua "Liberdade" é bem bonita, bem sentida e joga bem com a "Felicidade"!...
Beijos amigos
Olá Xosé,
ResponderEliminarObrigada pelo convite que nos fazes para estarmos presentes nessa festa bem portuguesa, no dia 25 de Abril. O repertório é tentador, pena estarmos tão longe.
Eu e Argos adorámos ver-te escrever em galego. Eu sou portuguesa, como sabes, e Argos é luso/galego.
E obrigada pelo brinde por Portugal, beberemos um Porto "virtual" juntamente contigo.
Não te esqueças, se fores a esse espectáculo, de nos contares como foi.
Bikiños
hOlá Xosé,
ResponderEliminarmuchas gracias por el convite.
por favor cuenta todo sobre ese evento..
Para celebralo me tomare un vaso de vino" bordeaux" esta noche a las 22 h 30.
Gracias amugo y feliz fin de semana
Um abraço
hola amiga TETIS,
ResponderEliminarobrigado por dar a recordar y conocer todo esto..
Sabes que me gusta saber, aprender y conocer y aqui se aprende mucho sobretodo compartiendo post asi.
Yo tb estoy perfectamente de acuerdo con lo que dice nuestra amiga TERESA.
Um abraço e beijo
Olá Poseidón
ResponderEliminarObrigada pelo teu comentário e por estares connosco, portugueses, na comemoração (a do dia 25, é claro) deste importante acontecimento para a história de Portugal e do seu povo.
Sim, as palavras de Teresa são por demais correctas e revelam uma pessoa bem esclarecida, sensível e atenta ao mundo que a rodeia.
Besitos amigos