Mostrar mensagens com a etiqueta História. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta História. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 10 de junho de 2010

10 de Junho


Neste dia, em 1580 morria Luís Vaz de Camões, considerado o maior poeta português, uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.
Luís de Camões foi o autor que mais elogiou as aventuras heróicas dos nossos antepassados e é esta a razão desta data ser um feriado nacional e ser oficialmente o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Nada melhor que alguns poemas de Camões (sempre actuais), para comemorar este dia

O mundo…

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,

Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

A mudança…

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


E o amor…

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ilha do Pessegueiro

A Ilha do Pessegueiro localiza-se na costa do Litoral Alentejano, ao largo da freguesia de Porto Covo, a cerca de 250 metros da actual linha de costa, pertencendo ao concelho de Sines e ao distrito de Setúbal, Portugal.

Com cerca de 340 metros de comprimento e de largura máxima 235 metros, a ilha, de formato naviforme, é toda ela formada por arenito dunar assente sobre xistos. A sua estrutura geológica aponta para que se deva ter formado durante a glaciação Wurmiana, quando o nível do mar desceu cerca de 120 metros relativamente ao nível actual.

Elevando-se pouco sobre o nível das águas, a Ilha do Pessegueiro é coroada pelas ruínas de um forte inacabado do século XVII que foi muito danificado pelo grande terramoto de 1755.

Considerada Património Nacional desde 1990, a Ilha do Pessegueiro é um dos ex-libris da Costa Sudoeste Portuguesa

A Ilha e a História

A Ilha do Pessegueiro conserva numerosos vestígios arqueológicos que nos dão a perceber as dificuldades da navegação ao longo da costa Sul da Lusitânia, entre os séculos IV a.C. e o V d.C.

A ocupação desta costa parece remontar a navegadores cartagineses, em época anterior à segunda guerra púnica (218-202 a.C.).

A situação geográfica da ilha e a sua morfologia, sobretudo a existência de um canal que a separa do continente, constituiu um dos principais factores de ocupação humana, pelas excelentes condições naturais de fundeadouro que proporcionava. Num litoral com poucos abrigos, a sua localização a meia distância entre o Cabo de São Vicente e o Estuário do Sado, contribuíram para que se tornasse na Idade do Ferro e mais tarde na época Romana, um valioso porto de apoio à navegação costeira, para quem se defendia de piratas e corsários, bem como um importante entreposto comercial.

Assim, são as estruturas romanas que mais abundam por toda a ilha. Com efeito, à época da ocupação romana da Península Ibérica, a ilha abrigou um centro produtor de preparados de peixe (sobretudo sardinha), conforme atestam os recentemente descobertos tanques de salga. Da ilha seguiu (do século I ao XV) peixe das salgas para todo o Alentejo.

O nome “Pessegueiro” parece, segundo os historiadores, estar relacionado com os termos latinos “piscatorius” ou “piscarium”, termos estes associados à actividade da ilha durante a época Romana.


Durante a Dinastia Filipina e, com o objectivo de proteger os pescadores e as gentes locais das incursões dos piratas e corsários argelinos e holandeses, de forma a que não utilizassem o ancoradouro natural como ponto de apoio, foi projectada a sua ampliação através de um enrocamento artificial de pedras que ligaria a Ilha do Pessegueiro à linha da costa.

No âmbito desse projecto, foi iniciado a partir de 1590 a edificação do Forte de Santo Alberto, com a função de cruzar fogos com a fortaleza gémea existente em frente, no continente, o Forte de Nossa Senhora da Queimada.

Os trabalhos deste projecto viriam a ser interrompidos em 1598, pela transferência do seu responsável para as obras do Forte de Vila Nova de Milfontes, acabando por nunca terem sido completadas.

Porém, ainda no século XIX, o canal entre a ilha e o continente desempenhava funções portuárias, aproveitando das condições abrigadas que aí se podiam encontrar.

A Ilha e as Lendas

A Lenda de Nossa Senhora da Queimada

A tradição guarda a lenda do milagre de Nossa Senhora da Queimada.

Conta-se que em meados do século XVIII chegaram à ilha piratas do Norte de África e que ali só encontraram um ermitão. Este, decidido a defender uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora que tinha à sua guarda, enfrentou os piratas acabando por ser assassinado. Depois de saquearem o que existia na capela, os piratas atiraram para as chamas a imagem da santa.

Após a retirada dos piratas, os habitantes de Porto Covo vieram à ilha e deram uma sepultura cristã ao eremita. Não vendo a imagem da santa, procuraram-na por toda a ilha, acabando por encontrá-la miraculosamente intacta, sem qualquer dano, no meio dos restos de uma moita queimada.

O povo de Porto Covo, apercebendo-se do milagre, recolheu a imagem e colocou-a numa nova ermida que ergueu no continente, a cerca de 1 km de distância da ilha. Passou a ser conhecida como a Capela de Nossa Senhora da Queimada, local de grande veneração pela população da região.

Lenda do Menino da Gralha


Uma outra lenda trata do tempo em que o Forte da Ilha do Pessegueiro era ocupado pelos Mouros.

Um capitão mouro vivia nesse forte, com um grupo de soldados, a sua mulher e os filhos. A seu cargo estava a defesa da fortaleza e o treino dos seus soldados. Sonhava fazer do seu filho, uma criança de 8 anos, um grande guerreiro, corajoso e forte, destemido e sanguinário.

Contudo, o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia. O que ele mais gostava era de brincar e o seu pequenino coração amava tanto as pessoas como todos os animais. Afeiçoou-se a uma gralha, de tal forma que ela passou a ser o seu passatempo favorito. Onde estava o menino lá estava a gralha, o que enfurecia o seu pai que via o seu desinteresse pelas artes da guerra. Depois de ter ameaçado matar a gralha se o filho não deixasse de brincar com ela, o menino, uma noite quando todos dormiam, pegou na sua amiga e resolveu fugir para que seu pai não a matasse.

Muitos dias se passaram sem que resultassem as buscas de encontrar o menino. A pobre mãe chorou, o pai arrependeu-se mas tarde de mais, não voltaram a ver o seu filho. Quando o encontraram, já ele estava morto, num vale, junto a uma fonte, com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, também morta.

Desde ai, aquela fonte ficou conhecida como a Fonte da Gralha.

Nota: Esta fonte encontra-se debaixo da água da nova barragem, construída na herdade da Cabeça da Cabra, e ainda hoje muita gente ali residente se lembra perfeitamente dela.


E a nossa visita à Ilha do Pessegueiro não ficaria completa sem ouvirmos o poema de Carlos Tê que Rui Veloso tão bem soube musicar, interpretar e dessa forma imortalizar esta linda região de Portugal.

Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
Á volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do estivo
Devolve-me à lembrança o Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo.


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pedro e Inês

Os amores de Pedro e Inês - breve história

D. Pedro I, 8º rei de Portugal, nasceu em 1320 e era filho de D. Afonso IV.

Os cognomes ou alcunhas que teve, Justiceiro ou Cruel, têm a ver com uma triste história de amor que viveu quando ainda era príncipe, considerada como uma das mais famosas histórias de amor do mundo!

Tudo começou com o casamento de D. Pedro com uma princesa espanhola, D. Constança. Não existia amor entre os dois, uma vez que o casamento foi arranjado pelos pais, como era hábito na época. Foi nessa altura que D. Pedro conheceu D. Inês de Castro, uma das aias (dama de companhia) de D. Constança, que veio para Portugal e por quem o príncipe se apaixonou.

Inês era uma dama galega, filha bastarda de um dos homens mais poderosos de Espanha, que por sua vez era neto de Sancho IV, Rei de Castela, como também o era Dom Pedro, o que torna Pedro e Inês primos. Também D. Constança, esposa de Dom Pedro e futura Rainha de Portugal, era prima de Inês.

A beleza singular de D. Inês despertou desde logo a atenção do Príncipe, que veio a apaixonar-se profundamente por ela. Desta paixão nasceu entre Pedro e Inês uma ligação amorosa que provocou escândalo na Corte portuguesa, pois todos tinham medo que D. Inês, filha de um poderoso nobre espanhol, pudesse ter má influência sobre o príncipe. Por este motivo o rei, D. Afonso IV, expulsou Inês de Castro do reino, indo esta instalar-se num castelo junto à fronteira.

Assim, quando D. Constança morreu, D. Afonso continuou a condenar o romance dos dois apaixonados, tanto mais que D. Pedro mandou que D. Inês regressasse a Portugal e instalou-a na sua própria casa, onde passaram a viver uma vida de marido e mulher, de que nasceram quatro filhos.

O rei cada vez se mostrava mais preocupado com a ligação de Pedro e Inês, tanto mais que os irmãos desta tentavam influenciar D. Pedro a reclamar para si a coroa de Castela. Por outro lado, o povo descontente com as guerras e a fome que se viviam no reino, tinha medo da influência de D. Inês junto do príncipe herdeiro.

Foi para impedir essa grande influência que D. Inês tinha junto de D. Pedro, e também para agradar ao povo, que o rei D. Afonso IV ordenou a morte de Inês de Castro, numa altura em que o seu filho Pedro estava ausente. Os executores foram Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e Pedro Coelho, conselheiros do rei e ricos homens do Reino.
Indignado com a injustiça do pai, Pedro revoltou-se e declarou-lhe guerra. Durante meses as suas tropas assolaram o país, chegando mesmo a ter a cidade do Porto debaixo de cerco. Só a intervenção da rainha evitou o encontro militar directo entre pai e filho.

D. Pedro, mal subiu ao trono e apesar dos perdões solenemente jurados, logo tratou de vingar a morte de Inês mandando capturar os seus assassinos que se tinham refugiado em Castela para fugir à sua fúria. As execuções dos culpados foram feitas com rigores tão atrozes e cruéis que perturbaram os seus contemporâneos. Um dos assassinos conseguiu escapar, mas dois foram capturados, sendo a um arrancado o coração pelas costas e ao outro pelo peito.

Em 1360 o Rei anunciou que se havia casado secretamente com Inês e, pela mesma ocasião, para tentar preservar a sua memória, mandou construir os monumentais túmulos do Mosteiro de Alcobaça, para onde transladou o corpo de Inês e onde viria também ele a ser enterrado. Estes, devido à sua beleza e grandiosidade, são considerados os grandes expoentes da arte tumular medieval portuguesa. Sobre a tampa do túmulo de Inês está esculpida a sua imagem, de corpo inteiro, com coroa na cabeça como se fora rainha. As esculturas do túmulo de D. Pedro representam cenas da vida dos dois apaixonados desde a chegada de Inês a Portugal. Os túmulos encontram-se frente a frente, pois D. Pedro queria que os dois, quando acordassem no dia do Juízo Final, olhassem imediatamente um para o outro.

Na altura em que os túmulos ficaram prontos, foi feita uma marcha fúnebre com grande solenidade para a colocação dos restos mortais de D. Inês no seu futuro local de repouso, na qual toda a Nobreza terá sido forçada a participar. Já em Alcobaça diz-se que Inês foi coroada rainha (Camões diz nos Lusíadas que Inês "depois de morta foi Rainha").
O mais sinistro de toda a história é que D. Pedro, ao elevar D. Inês de Castro a rainha, já depois de morta, obrigou toda a corte a beijar-lhe a mão, ou o que restava dela (porque D. Inês já tinha morrido há cerca de dois anos).
O local onde D. Inês foi morta, em Coimbra, é hoje conhecido como a Quinta das Lágrimas, sítio preferido para o encontro de “namorados”!...

Nessa quinta existe a Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas, cujas águas escorrem por um cano estreito que vai terminar a uma centena de metros dum Convento. Seriam as águas que brotam dessa Fonte para este cano que serviriam de transporte para as cartas de amor de Pedro para Inês. Diz a lenda que o príncipe as colocava em barquinhos de madeira que, seguindo a corrente, iriam até às mãos delicadas de Inês.

Terá sido nas matas da actual Quinta das Lágrimas que Inês foi assassinada pelos três algozes de D. Afonso IV. Reza a lenda que esta se encontrava "posta em sossego" (como escreveu Camões), quando de repente se viu abordada pelos três homens que a esfaquearam até à morte. Terão sido as lágrimas que Inês então chorou que fizeram nascer a Fonte das Lágrimas. O sangue que do seu corpo jorrou, diz-se, está ainda hoje gravado na rocha, onde permanecerá para sempre.

A trágica história de D. Pedro e D. Inês tem sido a inspiradora, ao longo dos séculos, dos mais brilhantes poetas, escritores e compositores de todo o mundo. Camões foi um dos primeiros escritores a celebrá-la em "Os Lusíadas".

Camões põe na boca de Inês as seguintes palavras dirigidas ao rei D. Afonso IV, quando este ameaçou matá-la:

“Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.”

Camões descreve ainda Inês quando foi assassinada:

“Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito (...)”

Na Fonte das Lágrimas pode ler-se a seguinte estrofe de Camões:

“As filhas do Mondego, a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E por memória eterna em fonte pura
As Lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram que ainda dura
Dos amores de Inês que ali passaram
Vede que fresca fonte rega as flores
Que as Lágrimas são água e o nome amores.”