Azul

A inquietação invade-me no fim do Inverno. A Primavera nunca mais chega.

Quando a Primavera chega, a inquietação continua lá à procura das andorinhas.

As andorinhas regressam e a inquietação acentua-se porque começou a chover, o tempo arrefeceu e onde é que as andorinhas vão arranjar alimento?

Se as andorinhas morrem como é que a Primavera pode trazer o Verão e o calor?

Esta Primavera esta demasiado cinzenta. Pintou tudo dessa cor:

O céu, o rio, as pedras da calçada, até os prédios parecem cinzentos.

Olho para o céu em busca de um bocadinho de azul e só vejo cinzento.

Uma chuva miudinha e fria molha-me o rosto, fazendo-me sentir um tremor de frio.

Procuramos abrigo na estação…cinzenta.

Cinzento o chão, as paredes, as pessoas, até as cores dos comboios estão cobertas por uma fina camada de pó cinzento!

Deambulamos pela pequena feira que empresta um colorido artificial ao meu mundo cinzento.

Paramos junto de uma tendinha da América do Sul que vende artesanato típico do seu país.

Mexes e remexes na caixa. Examinas cada peça, cada detalhe, olhas, deixas essa, pegas noutra. Estou impaciente, tenho frio, quero voltar para casa e não percebo a diferença que tu pareces ver em todas aquelas pedrinhas com “propriedades”, como a vendedora apregoa.

Por fim pareces ter encontrado a “ideal”. Pagas, recebes o saquinho de papel branco e vamos embora.

Um suspiro de alívio. Vamos para casa, parou de chover. Quero fugir deste cinzento todo.

Cá fora sorris, rasgas o saco de papel, abres a minha mão cerrada e colocas nela a pedrinha alongada e azul brilhante.

A minha mão fecha-se e percebo que os contornos suaves da pedra encaixam perfeitamente sob os meus dedos.

Sorris de novo e dizes:

- Um pedacinho de céu azul para ti!

É muito mais do que um pedacinho de céu.

É o meu azul.

É o teu amor incondicional.