terça-feira, 17 de maio de 2011

Manuel António Pina ganha prémio Camões

O escritor português Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa.



É a coisa mais inesperada que poderia esperar”, disse o poeta Manuel António Pina, que acabara de saber que lhe fora atribuído o Prémio Camões de 2011, no valor de cem mil euros. “Nem sabia que estava hoje a ser discutida a atribuição do prémio”, acrescentou.

Todos os jurados levavam nas suas listas o nome de Manuel António Pina e não precisaram sequer de meia hora para chegar a uma decisão unânime na reunião que mantiveram esta manhã na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Pina torna-se assim o 23º Prémio Camões e o décimo português a receber esta consagração, se excluirmos o autor angolano nascido em Portugal, Luandino Vieira, que recusou o prémio em 2006.

O júri integrou dois jurados portugueses (a ensaísta e poetisa Rosa Martelo e o ensaísta e professor de literatura brasileira Abel Barros Baptista), dois brasileiros (o poeta António Carlos Secchim e a ficcionista Edla Van Steen) e ainda dois representantes dos países africanos de expressão portuguesa: a poetisa e ficcionista angolana Ana Paula Tavares e a ensaísta são-tomense Inocência Mata.

Nascido no Sabugal, Guarda, em 1943, Manuel António Pina foi jornalista durante várias décadas e estreou-se na poesia em 1974 com o livro “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde”. No ano anterior publicara o seu primeiro livro para crianças, “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”. Consensualmente reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa – ainda hoje assina uma crónica diária no Jornal de Notícias –, Manuel António Pina publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças, mas só em 2003 se aventurou na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.”.

Se a sua obra de ficção é menos conhecida internacionalmente, a sua poesia está traduzida na generalidade das línguas europeias. O seu mais recente livro de poemas, intitulado “Os Livros” (Assírio & Alvim, 2003) venceu os prémios de poesia da Associação Portuguesa de Escritores e a da Fundação Luís Miguel Nava.

In: Público/Cultura, 12-05-2011



O Livro

E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.


Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito,
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.

In: Os Livros, Assírio & Alvim, 2003

Poema inédito


À noite com Job, sob o céu de Calar Alto

Como um Deus incompreensível
confundido pela própria
argumentação
perguntando: “Onde é que eu ía?”

Como uma pergunta
a que só é possível responder
com novas perguntas.

Como vozes ao longe discutindo:
“Alguma vez deste ordens à manhã,
ou indicaste à aurora o seu lugar?”

Como um filme
em que tudo acontecesse
na escuridão do espectador.

Como o clarão da noite última
e vazia que abraça pela cintura
a jovem luz do dia.

Fonte: Público, 13-05-2011

12 comentários:

  1. Também gostei deste poeta...Logo que soube do prémio, pesquisei....
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Minha querida

    Uma homenagem linda...um orgulho e adorei a poesia dele, não conhecia.

    Deixo um beijinho com carinho
    Sonhadora

    ResponderEliminar
  3. É um prémio merecido! E além do escrito aprecio o homem. Não se finge de intelectual e nunca deixou de pensar e dizer o que pensa:)

    ResponderEliminar
  4. Oi, amigos!
    Tem mais selinhos no meu blog novo p/ vcs:
    http://vampireplace.blogspot.com/2011/05/selinhos-e-desafio-da-giza.html

    Bjinhosssssssss

    ResponderEliminar
  5. Querida amiga, lindos poemas, realmente ele mereceu ganhar esse prêmio. Beijocas

    ResponderEliminar
  6. Com muitas saudades estou passando bem tarde no seu blog.
    Estou deixando muitas amigas sem visitar mais o motivo é problemas de saúde com minhas 2 filhas.
    Se Deus quiser logo tudo estara em paz.
    bejos e beijos,Evanir..
    www.aviagem1.blogspot.com

    ResponderEliminar
  7. Gosto desde poeta.. e um homenagem bonito... nao conhocía...

    sao lindos poemas..

    Um beijinho querida amiga... sensibel.. e vital..

    ResponderEliminar
  8. Oh dios, ahora tengo ganas de conseguirme un libro de Manuel!, si no fuera por este post no lo conocería, te agradezco que enriquezcas mi pobre cultura general y que compartas lo que escribes.

    Gracias por compartir!
    saludos.

    ResponderEliminar
  9. Grandísimo autor, absolutamente merecedor del premio.
    Felicidades.

    Besos. María

    ResponderEliminar
  10. Querida amiga Tétis,

    "Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa."

    Pues debe estar muy satisfecho y contento, pora algo sera que lo haya recibo!

    Parabéns a Manuel ANTONIO.

    un beso de suadades querida amiga

    ResponderEliminar
  11. Olá amiga Tétis,

    Não conheço muito bem este autor, mas prometo que vou tentar recuperar da minha "falha"!

    Abraço grande

    ResponderEliminar
  12. Obrigada a todos que aqui vieram partilhar comigo mais uma distinção a um escritor da Lusofonia.

    Beijinhos para todos vós.

    ResponderEliminar

Cada comentário a este post é mais um Facho de Luz que nos ilumina.
Mas, se apenas quiser assinalar a sua presença, dar-nos um recadinho ou dizer-nos um simples “olá”, poderá também fazê-lo no nosso Mural de Recados.
A equipa do Farol agradece o vosso carinho e Amizade.