“É a coisa mais inesperada que poderia esperar”, disse o poeta Manuel António Pina, que acabara de saber que lhe fora atribuído o Prémio Camões de 2011, no valor de cem mil euros. “Nem sabia que estava hoje a ser discutida a atribuição do prémio”, acrescentou.
Todos os jurados levavam nas suas listas o nome de Manuel António Pina e não precisaram sequer de meia hora para chegar a uma decisão unânime na reunião que mantiveram esta manhã na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Pina torna-se assim o 23º Prémio Camões e o décimo português a receber esta consagração, se excluirmos o autor angolano nascido em Portugal, Luandino Vieira, que recusou o prémio em 2006.
O júri integrou dois jurados portugueses (a ensaísta e poetisa Rosa Martelo e o ensaísta e professor de literatura brasileira Abel Barros Baptista), dois brasileiros (o poeta António Carlos Secchim e a ficcionista Edla Van Steen) e ainda dois representantes dos países africanos de expressão portuguesa: a poetisa e ficcionista angolana Ana Paula Tavares e a ensaísta são-tomense Inocência Mata.
Nascido no Sabugal, Guarda, em 1943, Manuel António Pina foi jornalista durante várias décadas e estreou-se na poesia em 1974 com o livro “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde”. No ano anterior publicara o seu primeiro livro para crianças, “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”. Consensualmente reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa – ainda hoje assina uma crónica diária no Jornal de Notícias –, Manuel António Pina publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças, mas só em 2003 se aventurou na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.”.
Se a sua obra de ficção é menos conhecida internacionalmente, a sua poesia está traduzida na generalidade das línguas europeias. O seu mais recente livro de poemas, intitulado “Os Livros” (Assírio & Alvim, 2003) venceu os prémios de poesia da Associação Portuguesa de Escritores e a da Fundação Luís Miguel Nava.
In: Público/Cultura, 12-05-2011
O Livro
E quando chegares à dura
pedra de mármore não digas: «Água, água!»,
porque se encontraste o que procuravas
perdeste-o e não começou ainda a tua procura;
e se tiveres sede, insensato, bebe as tuas palavras
pois é tudo o que tens: literatura,
nem sequer mistério, nem sequer sentido,
apenas uma coisa hipócrita e escura, o livro.
Não tenhas contra ele o coração endurecido,
aquilo que podes saber está noutro sítio.
O que o livro diz é não dito,
como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio.
In: Os Livros, Assírio & Alvim, 2003
Poema inédito
À noite com Job, sob o céu de Calar Alto
Como um Deus incompreensível
confundido pela própria
argumentação
perguntando: “Onde é que eu ía?”
Como uma pergunta
a que só é possível responder
com novas perguntas.
Como vozes ao longe discutindo:
“Alguma vez deste ordens à manhã,
ou indicaste à aurora o seu lugar?”
Como um filme
em que tudo acontecesse
na escuridão do espectador.
Como o clarão da noite última
e vazia que abraça pela cintura
a jovem luz do dia.
Fonte: Público, 13-05-2011
Também gostei deste poeta...Logo que soube do prémio, pesquisei....
ResponderEliminarAbraço
Minha querida
ResponderEliminarUma homenagem linda...um orgulho e adorei a poesia dele, não conhecia.
Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora
É um prémio merecido! E além do escrito aprecio o homem. Não se finge de intelectual e nunca deixou de pensar e dizer o que pensa:)
ResponderEliminarOi, amigos!
ResponderEliminarTem mais selinhos no meu blog novo p/ vcs:
http://vampireplace.blogspot.com/2011/05/selinhos-e-desafio-da-giza.html
Bjinhosssssssss
Querida amiga, lindos poemas, realmente ele mereceu ganhar esse prêmio. Beijocas
ResponderEliminarCom muitas saudades estou passando bem tarde no seu blog.
ResponderEliminarEstou deixando muitas amigas sem visitar mais o motivo é problemas de saúde com minhas 2 filhas.
Se Deus quiser logo tudo estara em paz.
bejos e beijos,Evanir..
www.aviagem1.blogspot.com
Gosto desde poeta.. e um homenagem bonito... nao conhocía...
ResponderEliminarsao lindos poemas..
Um beijinho querida amiga... sensibel.. e vital..
Oh dios, ahora tengo ganas de conseguirme un libro de Manuel!, si no fuera por este post no lo conocería, te agradezco que enriquezcas mi pobre cultura general y que compartas lo que escribes.
ResponderEliminarGracias por compartir!
saludos.
Grandísimo autor, absolutamente merecedor del premio.
ResponderEliminarFelicidades.
Besos. María
Querida amiga Tétis,
ResponderEliminar"Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa."
Pues debe estar muy satisfecho y contento, pora algo sera que lo haya recibo!
Parabéns a Manuel ANTONIO.
un beso de suadades querida amiga
Olá amiga Tétis,
ResponderEliminarNão conheço muito bem este autor, mas prometo que vou tentar recuperar da minha "falha"!
Abraço grande
Obrigada a todos que aqui vieram partilhar comigo mais uma distinção a um escritor da Lusofonia.
ResponderEliminarBeijinhos para todos vós.