sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ser que nunca fui

Começo a chorar
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui e
regressei sem nunca
ter partido
para o norte aceso
no arremedo da esperança

Nessas noites
em que de sombra
me disfarceie
incitei os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me a um luar
sem pausa e
vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que não são nunca iguais.

Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me viu entrar
na cidade que em mim despertava.

Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente

Mia Couto

14 comentários:

  1. Meus queridos amigos
    Maravilhoso poema de Mia Couto, eu adoro.

    Beijinhos
    Sonhadora

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  2. A retomar contacto, depois de longa ausência...foi um prazer encontrar aqui Mia Couto, esse colosso literário...um abraço!

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  3. Nas horas tardias que a noite desmaia
    Que rolam na praia mil vagas azuis,
    E a lua cercada de pálida chama
    Nos mares derrama seu pranto de luz

    Fagundes Varela

    BOM FDS.....Beijos no coração!!M@ria

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  4. Não me negue as flores,
    pois, tiro delas a minha essência!
    seu perfume, é minha inspiração...
    seu colorido, é minha alegria...
    sua beleza, é minha vida!

    Jacira Cardoso

    OBS: Leve este mimo que te ofereço com muito carinho.....M@ria

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  5. Mia Couto,sempre uma grande Alma sensível.
    Beijo.
    isa.

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  6. Son momentos muy lindo, me quedo con tus verso..

    Un abrazo
    Saludos fraternos..

    Que tengas un muy bello fin de semana..

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  7. Preciosas letras llenas de sentimientos.

    Feliz tarde de sábado. Besos.

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  8. Qué bello poema me encantó leerlo.. buen domingo. Daniel

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  9. Hermoso poema de Mia,siempre es un placer pasar por aquí.
    Beijinhos para ti de chile y mios

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  10. Olá amigo Argos

    De novo Mia Couto e os temas da "esperança", da "saudade", do "destino", sempre constantes e tão comuns em todos os escritores da Lusofonia.

    Deixo-te com outro poema de Mia de que muito gosto.

    Identidade

    Preciso ser um outro
    para ser eu mesmo

    Sou grão de rocha
    Sou o vento que a desgasta

    Sou pólen sem insecto

    Sou areia sustentando
    o sexo das árvores

    Existo onde me desconheço
    aguardando pelo meu passado
    ansiando a esperança do futuro

    No mundo que combato morro
    no mundo por que luto nasço.


    Um enorme abraço de muita Amizade

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  11. Amigo ARGOS,

    al final somos lo que somos y ocupamos en la vida el lugar que nos corresponde " ya puedes darle vueltas al asunto pero es así!"

    TE DEJO ESTA CITA DE Schopenhauer :

    "El hombre no es nunca feliz, pero se pasa toda la vida corriendo en pos de algo que cree ha de hacerle feliz. Rara vez alcanza su objetivo, y cuando lo logra solamente consigue verse desilusionado."

    un abrazo grande!

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  12. Olá Argos,

    Aprecio muito mais o Mia Couto romancista, do que poeta.
    De qualquer maneira, há um ou outro poema de que gosto.
    Gosto do que postaste, - não é por esse motivo, como é óbvio - e gosto, igualmente, deste que deixo:
    Horário do Fim

    morre-se nada
    quando chega a vez

    é só um solavanco
    na estrada por onde já não vamos

    morre-se tudo
    quando não é o justo momento

    e não é nunca
    esse momento.

    Abraço, Amigo.

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  13. Um muito obrigado a todos os que aqui deixaram palavras simpáticas.

    Todos somos e todos parecemos.

    Abraço grande

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