Fernando Pessoa "cinéfilo"

No passado mês de Julho foi colocado à venda, pela editora “Ática”, o livro “Argumentos para Filmes”, no âmbito da colecção “Obras de Fernando Pessoa”, livro este que causou algum impacto na comunicação social e no público em geral ao revelar-nos ainda mais outra faceta do escritor que, ao que parece, jamais parará de nos surpreender.

Nesta obra foram compilados 20 textos do espólio de Fernando Pessoa, totalmente inéditos em Portugal, relacionados com cinema e que incluem argumentos para filmes, correspondência, notas e planos.

O escritor deixou dactilografados argumentos cinematográficos em três línguas diferentes. Entre os escritos encontram-se seis argumentos incompletos, quatro deles da década de 20, em inglês, um deles com diálogos em português e com curiosas anotações como “Nota para um thriller disparatado”, “para um filme” ou “meio plano para peça ou filme”. Outros dois argumentos são posteriores a 1917, escritos em francês e agora traduzidos para português.

Um dos capítulos do livro é dedicado aos projectos de Fernando Pessoa relacionados com o cinema. Efectivamente, em 1919/1920 queria criar uma empresa que se chamaria Cosmopolis e, mais tarde, o Grémio de Cultura Portuguesa, cuja acção passaria necessariamente pelo cinema, que Pessoa descreveu, nos seus planos, como “uma das maiores armas de propaganda que se pode imaginar” e que pretendia usar “para divulgar Portugal no mundo”.

É no âmbito destes dois projectos que o escritor revela a sua ideia de criar uma produtora cinematográfica, a Ecce Film. O logótipo, completamente inédito, reproduzido no livro, é invenção de Fernando Pessoa, incluindo o aspecto gráfico. O poeta ensaiou vários logótipos para esta Ecce Film, chegando até a imaginar o respectivo papel timbrado, bem como os envelopes com uma morada.

O interessante da descoberta desta nova faceta de Fernando Pessoa está em que vem refutar a tese, até aqui sustentada, de que o escritor não se interessava por cinema. Efectivamente, esta ideia tem vindo a ser fundamentada por excertos de alguns poemas do heterónimo Álvaro de Campos onde surge expressa aversão ao cinema, em tom bastante depreciativo. Contudo, grande parte dessas referências eram feitas ao cinema de Hollywood, que Fernando Pessoa considerava superficial, assumindo assim uma posição crítica.

Fonte: Agência Lusa