sábado, 31 de julho de 2010

Até sempre, António Feio!...

(06-12-1954 / 29-07-2010)

Vítima de cancro no pâncreas, morreu o actor António Feio. O seu corpo está em câmara ardente no Palácio Galveias, junto ao Campo
Pequeno, em Lisboa. O funeral realiza-se este sábado às 16 horas para o Cemitério dos Olivais.

"Depois de ano e meio a lutar contra o cancro no pâncreas, António Feio morreu perto da meia-noite, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde estava internado desde quarta-feira.

Aos 55 anos, o actor deixa um percurso memorável no teatro, em particular na comédia, e com presenças marcantes também na televisão. A sua personagem mais famosa será talvez ‘Toni’, da peça ‘A Conversa da Treta’, que partilhou ao lado de José Pedro Gomes, companheiro de diversas investidas na comédia. A dupla era imbatível na análise às qualidades e defeitos de se ser português.

Nascido em Lourenço Marques a 6 de Dezembro de 1954, mudou-se para Lisboa aos sete anos e a família instala-se em Carcavelos.

Ainda quando estava no Liceu de Nova Oeiras, a mãe, Ester, começa a ensaiar uma peça (‘A Casa de Bernarda de Alba’, de Garcia Lorca) no Teatro Experimental de Cascais. Feio acaba por aceitar o convite de Carlos Avilez para fazer a peça ‘O Mar’, de Miguel Torga, que se estreia em 1966.

A partir daí, entra em diversas peças de teatro na televisão, folhetins na rádio, publicidade e filmes.

Em 1969, regressa a Lourenço Marques. Continua os estudos, no Liceu Salazar, e faz uma digressão por Moçambique com a companhia Laura Alves, com a peça ‘Comprador de Horas’.

Chegou a estudar para ser desenhador, mas continua ligado ao teatro ao longo da década de 70. Acaba por se tornar conhecido de toda a gente, graças à sua personagem de toxicodependente na segunda telenovela portuguesa, ‘Origens’.

Quanto ao percurso nos palcos, o seu currículo inclui o Teatro Popular-Companhia Nacional I, o Teatro São Luiz, o Teatro Adoque, o Teatro ABC, a Casa da Comédia, o Centro de Arte Moderna, o Teatro Aberto, o Teatro Variedades, o Teatro Nacional D. Maria II e muitos outros grupos e projectos pontuais.

Faz muitas traduções e algumas das suas dobragens para televisão tornaram-se famosas.

Começa a encenar e o primeiro espectáculo é ‘Pequeno Rebanho Não Desesperes’, na Casa da Comédia. Segue-se ‘Vincent’, numa galeria de arte nas Amoreiras e ‘O Verdadeiro Oeste’, em Benfica.

O arranque da dupla com José Pedro Gomes surge no início da década de 90, como actor, em ‘Inox-Take 5’.

Começa a dar aulas no Centro Cultural de Benfica e forma com vários alunos alguns grupos: “O Esquerda Baixa” e o “Pano de Ferro”, e com eles faz alguns espectáculos. A dupla assinou uma série de espectáculos que foram um sucesso sempre a crescer: ‘Conversa da Treta’, ‘O Que Diz Molero’, ‘Arte’, ‘Pop Corn’, ‘Jantar de Idiotas’, ‘O Chato’, ‘2 Amores’.

O facto de ‘Conversa da Treta’ ter chegado à televisão e ao cinema, tornou o rosto de Feio e de José Pedro Gomes um modelo da nova comédia popular.

Já doente, terminou a carreira de ‘A Verdadeira Treta’, como actor, e assinou duas encenações: ‘Vai-se Andando’ e uma versão de ‘Auto da Índia’, de Gil Vicente.

A 27 de Março deste ano, Dia Mundial do Teatro, foi distinguido por Cavaco Silva e passou a comendador da ordem de Infante D. Henrique. Visivelmente emocionado na cerimónia, que decorreu no Museu dos Coches, desabafou: “O teatro, para nós, é e será sempre uma festa.” António Feio viveu a fazer os outros felizes."

(In: Correio da Manhã, 30-7-2010)

O trabalho era para ele, também, "uma válvula de escape".

Foi aos 11 anos que pisou pela primeira vez um palco de teatro e até ao fim afirmou: "É o que gosto de fazer, não sei fazer mais nada."

Apesar da doença que o devastava há mais de um ano, mesmo nas últimas semanas de vida, António Feio não deixou de ter um olhar crítico sobre a sociedade, como demonstra a sua última mensagem na sua página do Facebook, no dia 17: "Esqueçam a minha doença! Parem para pensar! Eu sou português, agora já sou Comendador, mesmo que não fosse (LOL), devo, gostava e devia de-fender a imagem de Portugal tanto cá como no mundo... mas não consigo! Será que não há ninguém que saiba gerir este País com seriedade, competência, rigor financeiro, justiça e respeito por todos nós?"

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cesária Évora e Marisa Monte


Continuamos a série "Duetos musicais" com duas divas da Lusofonia: Cesária Évora e Marisa Monte
Cesária Évora é a cantora caboverdiana de maior reconhecimento internacional.

Nascida no Mindelo, Ilha de São Vicente, Arquipélago de Cabo Verde, Cesária Évora é conhecida como “a diva dos pés descalços”, que é como se apresenta nos palcos, solidária com os “sem tecto” e com as mulheres e crianças pobres do seu país.

Desde muito nova que Cesária cantava e fazia apresentações aos domingos, juntamente com o irmão, na praça principal da sua cidade.
Antes de completar vinte anos já cantava em bares e hotéis, vindo a desenvolver as suas capacidades como cantora com a ajuda de alguns músicos locais.

Cedo é apelidada pelos seus fãs de a "Rainha da Morna", o género musical rico em sentimentos que tornou Cesária conhecida internacionalmente e através do qual, cantando em crioulo, consegue expressar duma forma tão profunda a longa e amarga história de isolamento do seu país e do seu povo.

As dificuldades económicas e políticas de Cabo Verde, aliadas a questões pessoais, fizeram com que Cesária Évora só se tornasse uma estrela internacional aos 47 anos de idade.

Em 2004 conquistou um prémio Grammy de melhor álbum de “world music” contemporânea e em 2007, o presidente francês Jacques Chirac distinguiu-a com a medalha da Legião de Honra de França.

Cesária Évora é sem dúvida uma embaixadora da cultura caboverdiana no mundo, que emociona plateias levando-as a interagir com ela nos seus shows, mesmo na maior parte das vezes não entendendo o seu idioma. Os sons acústicos de violão, cavaquinho, violino, acordeão e clarinete, juntamente com a sua voz tropical, conferem à sua interpretação toques sentimentais e melancólicos que conquistam definitivamente todos aqueles que a escutam.


Marisa Monte é uma consagrada cantora, compositora, instrumentista e produtora musical brasileira.

Nascida no Rio de Janeiro, Marisa de Azevedo Monte, aprendeu piano, violão e bateria na infância. Na adolescência estudou canto lírico e participou do musical “Rocky Horror Show”, dirigido por Miguel Falabella.

Aos 18 anos partiu para a Itália para estudar canto, tendo aí permanecido dez meses. Desistindo do género lírico, Marisa, acompanhada de amigos, passa a cantar música brasileira em bares e casas nocturnas. Um desses shows, em Veneza, foi assistido pelo produtor musical Nelson Motta que viria a ser o director da sua primeira estreia no Rio de Janeiro, em 1987, no show "Veludo Azul". O sucesso foi enorme e imediato, despertando o interesse das gravadoras.

Em 1988, quando lançou o seu primeiro disco, “Marisa Monte ao vivo”, era já considerada uma das mais promissoras vozes da música popular brasileira. O segundo disco, “Mais” (1991), marcou a estreia de Marisa Monte como compositora, tendo sido muito bem recebido nos EUA, Japão, Europa e América Latina, o que impulsionou definitivamente a sua carreira internacional.

Tendo completado 23 anos de carreira este ano, Marisa Monte ganhou até agora 3 prémios “Grammy Latino”, além de muitos outros prémios nacionais e internacionais.
Conta com 10 milhões de CDs e DVDs vendidos em todo o mundo e é considerada pela “Rolling Stone Brasil” (uma das mais notáveis revistas do mundo da área musical), como a maior cantora do Brasil, lugar antes ocupado por Elis Regina.



terça-feira, 27 de julho de 2010

Interés sin escrúpulos

“Más que las ideas, a los hombres los separan los intereses.”

Y no es cosa nueva, es así desde tiempos remotos , sera que es para siempre?







domingo, 25 de julho de 2010

Fotografias


“- Não passe a mão pelas fotos que se estragam.
Elas são o contrário de nós: apagam-se quando recebem carícias
.”

(Mia Couto, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra. Caminho, pág. 50)


Fotografias, pedaços da vida, incompletas e imutáveis.
Porque as guardamos?
Foto a foto, nem sempre obedecendo a uma ordem cronológica, o percurso reconstitui-se.
Primeiro indefinido, surgindo da névoa da memória…
Até que por fim o trilho que seguimos se revela:
Vastidão de recordações e saudades, atravessado por um deserto de rostos longínquos e esbatidos.
Retratos, ilhas distantes, ecos do passado, pontes que persistem em ligar o mar à minha frente ao rio que teima em correr lá muito atrás.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Amália Rodrigues - Um Tributo

(23-07-1920 / 06-10-1999)

Se estivesse ainda entre nós e de acordo com os registos, Amália Rodrigues completaria hoje 90 anos.

Um Farol chamado Amizade, unindo-se às inúmeras iniciativas que por todo o país comemoram esta data, quer com este post homenagear aquela que ficou conhecida mundialmente como a “Raínha do Fado”.

Será uma singela homenagem em que se divulgarão e partilharão algumas canções, possivelmente menos conhecidas ou até desconhecidas da grande maioria de vós.

Apresentam-se assim 6 vídeos correspondentes a 6 canções cantadas, respectivamente em português - “Fado Amália”, espanhol -“Los Piconeros”, inglês - “Summertime”, italiano (napolitano) – “Tarantella”, francês – “Aie Mourir pour Toi” e em português do Brasil – “Falsa Baiana”.

Espero que esta selecção seja do vosso agrado e assim possam desfrutar da maravilhosa voz desta diva de Portugal.


















terça-feira, 20 de julho de 2010

Tiene uno que ser egoísta para ocuparse de sí mismo ?


La Cuestión:

Tiene uno que ser egoísta para ocuparse de sí mismo ?

Difícil de ocuparse de sí mismo, de hacer cosas para sí cuando uno se ocupa de una familia! Difícil de concentrarse y equilibrarse. Parece que haya huellas para darnos la fuerza, para nuestros hijos, pero no para sí mismo. ¿ La motivación para sí pasaría por un aprendizaje del egoísmo? ¿ La respuesta puede ser y por qué no? Una buena dosis de egoísmo jamás perjudicó a nadie, al contrario. Pensar en sí, ocuparse de sí, darse gusto, todavía queda mancillado por una connotación negativa y por lo tanto es vital para nuestro equilibrio. Sin ir hasta mirarse el ombligo 24/24 horas, existe (SI) un buen uso del narcisismo.

En el espíritu de la gente, fijar la atención sobre sí y sobre su deseo implica forzosamente que esto se haga en detrimiento de otros. Es todo lo contrario: para estar bien con los otros, es indispensable saber preservar su espacio personal y hacer respetar su intimidad.

Desgraciadamente, esta "ego-actitud" arrastra( lleva) todavía una culpabilidad fuerte. Las "huellas" de los modelos paternos y sociales a los cuales se refiere inconscientemente.

Estos modelos nos vienen de nuestra infancia, de nuestras madres, de nuestras abuelas, qué "sacrificaron" su tiempo y su energía para criar y educar su progenitura, y del cuerpo social que todavía transporta en vehículo la idea que hace falta mucha abnegación de sí para ser una madre perfecta!

Tú motivación, tus ganas de ocuparle de ti no te harán una " mala madre ", al contrario. Concretamente, esto significa que tener tiempo para si, tener hobbys, intereses, una vida social y amistosa aparte de sus niños y aparte de la esfera familiar te permitirá estar más disponible y más para la escucha en los momentos pasados juntos.

Es lo que le te ayudará ciertamente a disculparte...




segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Este blogue aquece-me o coração"


Um Farol chamado Amizade foi premiado com mais um miminho, na forma de um lindo selinho, que nos veio da querida amiga Helô e de um dos seus maravilhosos blogues, neste caso do “Miminhos Recebidos e Dados…” - http://miminhosrecebidosedados.blogspot.com/

As regras para atribuição deste selo são:

- Responder à pergunta: O que te aquece o coração?
- Indicar 5 blogues para passar o selo.

A resposta à pergunta é um tanto complicada. Isto porque, como todos sabem, somos 3 pessoas bem distintas umas das outras, cada um de nós com as suas vivências, os seus gostos, os seus interesses e por isso cada qual responderia possivelmente de forma bem diferente à pergunta formulada.
Assim e após “reunião” que durou várias horas (rsrsrsrsrs) foi aprovada por unanimidade a seguinte resposta:

"O que nos aquece o coração é sentirmos que estamos rodeados de amigos maravilhosos que diariamente nos dão toda a sua Amizade/Amistad, o que torna ainda mais brilhante e com maior alcance a luz do nosso Farol."

Bem e agora vem o pior!... É para nós completamente impossível passarmos este lindo selinho a apenas 5 blogues. Assim e uma vez mais (a amiga Helô já nos conhece e desculpa-nos!...) vamos pedir a todos aqueles a quem o nosso blog consegue aquecer o coração, que venham recolher este selo e o coloquem nos seus blogues.

Obrigado amiga Helô!...

sábado, 17 de julho de 2010

Aqui nesta praia...


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Frida Kahlo

6-7-1907 / 13-7-1954

Completaram-se já 56 anos após o desaparecimento de Frida Kahlo, aquela que é considerada a mais importante pintora mexicana e por muitos tida como a pintora do século.
Apesar do seu pouco tempo de vida, Frida Kahlo deixou obras magníficas e, para muitos, intrigantes. É necessário conhecer um pouco da sua vida para entendermos o que pintou.

Resumo biográfico

Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, mais conhecida como Frida Kahlo, nasceu a 6 de Julho de 1907 na casa de seus pais, conhecida como La Casa Azul, em Coyoacán, na época uma pequena cidade nos arredores da Cidade do México.
A vida de Frida foi sempre marcada pela tragédia pois, ao longo dos anos que viveu, sofreu uma série de doenças, acidentes e operações; aos seis anos contraiu poliomelite, o que a deixou coxa e fez com que começasse a usar calças e depois as conhecidas longas e exóticas saias, que se tornaram uma das suas marcas pessoais.

Quando já havia superado essa deficiência sofreu, aos 18 anos, um gravíssimo acidente quando viajava num autocarro. As inúmeras fracturas e as várias cirurgias que daí resultaram fizeram com que Frida ficasse muito tempo acamada. Foi durante a sua longa convalescença que
começou a pintar, utilizando um espelho e um cavalete que foram adaptados à cama. O espelho servia para que Frida se visse e assim se pudesse pintar a si mesma: "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor".


Em 1928, quando Frida Kahlo entra no “Partido Comunista Mexicano”, conhece o muralista Diego Rivera, com quem se casa no ano seguinte, aos 21 anos.

A sua vida de casada sempre foi bastante tumultuosa, pois ambos tinham temperamentos muito fortes. Diego tinha muitas amantes e Frida compensava as traições do marido com amantes de ambos os sexos.

Separam-se, mas em 1940 unem-se novamente, sendo o segundo casamento tão tempestuoso quanto o primeiro. Embora tenha engravidado mais de uma vez, nunca teve filhos, pois as sequelas do acidente impossibilitaram-na de levar uma gestação até ao final. Esta foi a maior dor da vida de Frida, o que deixou expresso em muitos dos seus quadros.

Após algumas tentativas de suicídio Frida Kahlo foi encontrada morta em 13 de Julho de 1954. Apesar do atestado de óbito registar embolia pulmonar como causa da morte, a última anotação no seu diário levanta a hipótese de suicídio: "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar – Frida”.

As pinturas

Dizia Frida: "pensavam que eu era uma surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade". Os seus quadros reflectiam o momento pelo qual passava, a sua vida trágica de dor e sofrimento.

"Auto-Retrato com Vestido de Veludo" (1926) - primeito trabalho profissional de Frida, onde ainda apresenta as influências da arte europeia.

"Cama Voadora" ou "O Hospital Henry Ford" (1932) - expressa não só o seu sofrimento e solidão, como a sua incapacidade em ser mãe.

"Nascimento" ou "O Meu Nascimento" (1932) - pintura em que Frida imagina o seu nascimento e o liga ao seu trama por não poder ter filhos. Também retrata a morte da mãe que morreu nessa data.
"O Coração" ou "Recordação" (1937) - um coração a sangrar, cujo tamanho é proporcional ao seu sofrimento e um tórax trespassado por um objecto cortanto, simbolizam toda a sua angústia.

“Eu a Mamar” ou “A Minha Ama e Eu” (1937) – a pintora expressa o seu profundo sentimento de rejeição que sentia pelo facto da mãe não a amamentar e a ter entregue a uma ama-de-leite.

“As Duas Fridas” (1939) – expressa as duas personalidades da pintora, a Frida mexicana e a Frida europeia, após a crise conjugal que resultou na separação de Diego Rivera.

"Auto-Retrato com Espinhos e Colibri" (1940)

"Pensando na Morte" (1943)

"A Coluna Quebrada" (1944)

"Sem Esperança" (1945)

“Árvore da Esperança, Mantém-te Firme” (1946) – quadro pintado após mais uma operação à coluna a que a pintora se submeteu. Retrata o sofrimento que é simbolizado pela noite e a esperança mostrada pelo sol que brilha no início de um novo dia.

"Auto-Retrato" (1947)

“Abraço Amoroso do Universo” (1949)

“O Marxismo Dará Saúde aos Doentes” (1954) – a pintora retrata o seu sonho de que o marxismo poderia acabar com todo o sofrimento e dor que atormentam a humanidade. Embora o marxismo seja a esperança para o povo mexicano este mantém-se com o colete ortopédico.


Frida Kahlo ficará para sempre imortalizada através da sua fortíssima e penetrante pintura!...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um miminho de luz!...


Amigos, seguidores e visitantes

“Um Farol chamado Amizade” quer hoje oferecer-vos um “miminho” com muita luz para iluminar os vossos blogues e as vossas vidas.

Assim, oferecemos a todos a luz do nosso Farol, como prova de toda a Amizade e carinho que temos por vós.

Bem hajam queridos amigos pela Amizade e dedicação que têm demonstrado para connosco.

Dos vossos amigos,

Argos * Tétis * Poseidón

sábado, 10 de julho de 2010

Inteligencia Emocional

La inteligencia emocional es la capacidad para reconocer sentimientos propios y ajenos, y la habilidad para manejarlos.

Las características de la llamada inteligencia emocional son: la capacidad de motivarnos a nosotros mismos, de perseverar en el empeño a pesar de las posibles frustraciones, de controlar los impulsos, de diferir las gratificaciones, de regular nuestros propios estados de ánimo, de evitar que la angustia interfiera con nuestras facultades racionales y la capacidad de empatizar y confiar en los demás.

«Los hombres que poseen una elevada inteligencia emocional suelen ser socialmente equilibrados, extrovertidos, alegres, poco predispuestos a la timidez y a rumiar sus preocupaciones. Demuestran estar dotados de una notable capacidad para comprometerse con las causas y las personas, suelen adoptar responsabilidades, mantienen una visión ética de la vida y son afables y cariñosos en sus relaciones. Su vida emocional es rica y apropiada; se sienten, en suma, a gusto consigo mismos, con sus semejantes y con el universo social en el que viven».

«Las mujeres emocionalmente inteligentes tienden a ser enérgicas y a expresar sus sentimientos sin ambages, tienen una visión positiva de sí mismas y para ellas la vida siempre tiene un sentido. Al igual que ocurre con los hombres, suelen ser abiertas y sociables, expresan sus sentimientos adecuadamente (en lugar de entregarse a arranques emocionales de los que posteriormente tengan que lamentarse) y soportan bien la tensión. Su equilibrio social les permite hacer rápidamente nuevas amistades; se sienten lo bastante a gusto consigo mismas como para mostrarse alegres, espontáneas y abiertas a las experiencias sensuales. Y, a diferencia de lo que ocurre con el tipo puro de mujer con un elevado cociente intelectual, raramente se sienten ansiosas, culpables o se ahogan en sus preocupaciones».

Toda persona es el resultado de la combinación entre el cociente intelectual y la inteligencia emocional, en distintas proporciones, pero ofrecen una visión muy instructiva del tipo de aptitudes específicas que ambas dimensiones pueden aportar al conjunto de cualidades que constituye una persona.

Concepto: Es la capacidad que tiene una persona para poder afrontar las circunstancias y conflictos que se le presente en la vida. Utilizar capacidades que van relacionados con una serie de virtudes como el amor, la armonía, el respeto, la autoestima, etc.

Historia: Si inicio su descubrimiento a mediados de los años 80, y se siguió su estudio por dos psicólogos norteamericanos de EEUU a principio de años noventa. Pero a mediados de la década de los 90 Daniel Goleman, publica un libro “Inteligencia Emocional”, lo cual genera gran interés y el libro se convierte en Best Seller a nivel mundial. E instala definitivamente en las sociedades el concepto de Inteligencia Emocional.

Inteligencia Emocional y la Autoestima: La relación que hay entre la inteligencia emocional y es autoestima es directa, ya que una autoestima positiva es producto de la aplicación de una buena inteligencia emocional. Lo generará el autoconocimiento personal y la aceptación como persona
Inteligencia Emocional en la Familia: Es prioritario que en la familia se promueva y se dé a conocer los beneficios de la inteligencia emocional, ya que esto va servir de base paraqq que cada individuo y la familia, en su conjunto, puedan resolver conflictos tanto internos como externos, y poder de esa manera tener paz, armonía y amor.

Inteligencia Emocional en la Sociedad: La sociedad presenta un diversidad de expresiones tanto materiales, físicas y psicológicos, por lo tanto una persona se enfrenta a factores diversos que pueden ser positivos y negativos. La persona debe aplicar la inteligencia Emocional para poder salir airoso de esto y poder equilibrar todo esto para su armonía y tranquilidad.

Inteligencia Emocional en la Empresa: La empresa tiene un solo objetivo: Poder ser eficiente para poder así crecer. Pero dentro de la empresa existe personal laboral con diversos tipos de pensamiento y emociones, lo cual a veces traen diversas diferencias y conflictos entre el personal. Esto crea una desazón en el trabajador. Y esto se agrava cuando la empresa no puede brindar la comodidad necesaria al trabajador para que pueda cumplir su labor eficientemente.

Es por eso que la persona debe saber aplicar la inteligencia emocional para que estos factores no afecten su desenvolvimiento dentro de la empresa, a la vez también estará ayudando a su desenvolvimiento como persona dentro de su familia y sociedad.


Parece ser que la inteligencia emocional hace tambalear los conceptos clásicos de la psicología, que daban prioridad al intelecto!

Y TU COMO LO VES?




Inteligência Emocional

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma pequena homenagem

A escritora Matilde Rosa Araújo morreu no passado dia 6 de Julho, na sua casa, em Lisboa, aos 89 anos.
A autora que disse um dia que os jovens lhe ensinaram “uma espécie de luz da vida, porque o seu olhar é de uma verdade intensa e absoluta”, permanecerá nos corações de todos aqueles que leram os seus livros, a iluminar o caminho da solidariedade e da fantasia.


Vida

Matilde Rosa Araújo nasceu em Lisboa em 1921. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa em 1945.
Foi professora do Ensino Técnico Profissional em Lisboa e noutras cidades do país, assim como professora do primeiro Curso de Literatura para a Infância, que teve lugar na Escola do Magistério Primário de Lisboa.
Foi autora de mais de 40 livros (contos e poesia para adultos) e de mais de duas dezenas de livros de contos e poesia para crianças.

Início de carreira

O seu início na literatura teve lugar em 1943 com a história "A Garrana", que trata um assunto polémico e delicado – a eutanásia e com a com a qual venceu o concurso "Procura-se um Novelista", do jornal “O Século”.

Direitos das crianças

Dedicou-se incessantemente à defesa dos direitos das crianças através da publicação de livros e de intervenções em organismos com actividade nesta área, como a UNICEF em Portugal.
Nos seus livros, a autora centrou-se sempre (ou quase sempre) em torno de três grandes eixos de orientação: a infância dourada, a infância agredida e a infância como projecto.

Prémios

Em 1980, recebeu o Grande Prémio de Literatura para Crianças, da Fundação Calouste Gulbenkian, e o prémio para o melhor livro infantil, pela mesma fundação, em 1996, pelo seu trabalho “Fadas Verdes” (livro de poesias de 1994).
Em 1991, recebeu o Prémio para o Melhor Livro Estrangeiro da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil.
Em 1994 foi nomeada pela secção portuguesa do IBBY (Internacional Board on Books for Young People) para a edição de 1994 do Prémio Andersen, considerado o Nobel da Literatura para a Infância.
Em 2003, a escritora foi ainda condecorada, a 8 de Março, Dia da Mulher, pelo Presidente Jorge Sampaio, e em Novembro a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) decidiu, por unanimidade, agraciá-la com o Prémio Carreira (entregue em Maio de 2004), pela sua "obra de particular relevância no domínio da literatura infanto-juvenil

Obra

Dos inúmeros títulos que perfazem o seu legado, merecem destaque pela fina sensibilidade que revelam, obras como: “O Livro da Tila” (1957), “O Palhaço Verde” (1962), “História de um Rapaz” (1963), “O Reino das Sete Pontas” (1974), A Velha do Bosque (1983) e, de 1994, As Fadas Verdes e “O Chão e as Estrelas”.


Da simplicidade infantil…

História do Sr. Mar

Deixa contar...
Era uma vez
O senhor Mar
Com uma onda...
Com muita onda...
E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...
A menina adormeceu
Nos braços da sua Mãe...

Matilde Rosa Araújo, O Livro da Tila



Ao olhar mais adulto…

Olhar

Fecundante é o olhar
De quem somos amados
Pássaros de fogo
Na seara ardente
E depois atravessamos o chão sem futuro
Com uma capa de cinza nos ombros frios



Obrigado Matilde, por me fazeres sonhar e crescer, descansa em paz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Dunas

Quero hoje partilhar convosco alguma informação sobre um tema “ecológico e ambiental” que sempre tem despertado a minha curiosidade e a vontade de saber e conhecer mais e mais.

Trata-se das “dunas” e do seu importante papel na defesa e protecção do ambiente.



O que são dunas e como se formam

Duna, também chamada de “medão” ou “medo”, é um monte ou elevação de areia criado por processos eólicos, ou seja, pelo vento.
Consoante a acção do vento, assim as dunas são sujeitas a movimentação e mudanças de tamanho e forma.

Areia seca, vento, uma superfície de deposição e um pequeno obstáculo, como uma pedra ou uma planta, são as componentes essenciais para a formação de uma duna. O pequeno obstáculo é o elemento indispensável que irá criar as condições de adesão e de protecção que permitem que a areia transportada pelo vento comece a acumular-se, originando um “montinho”.

Esta pequena acumulação de areia começa ela mesma a tornar-se o próprio obstáculo que, com a continuação do processo, com o vento a soprar na mesma direcção e com areia suficiente, irá dar origem a uma duna.

Embora todas as dunas tenham na sua base os mesmos princípios de formação e evolução, existem vários tipos de dunas, de acordo com o seu aspecto (morfologia) e a sua estrutura interna. Em geral as dunas junto ao mar, dada a direcção mais ou menos constante do vento, formam zonas de dunas compridas e transversais ao sentido do vento e paralelas entre si.

Com base na estrutura interna e na sua dinâmica de formação, as dunas podem ser classificadas de estacionárias ou fixas (geralmente estabilizadas por vegetação ou rochas), móveis ou migratórias (as mais comuns e que ocorrem devido à contínua acção do vento) e fósseis ou paleodunas (as que são originárias de formações consolidadas em épocas geológicas antigas).

As dunas formam-se essencialmente onde houver areia e vento, ou seja, junto a zonas litorais e nas zonas interiores, nos desertos.

Importância das Dunas

A preservação das dunas é de crucial importância pois são elas que fazem a transição entre o ambiente marinho e o meio terrestre.

Os ecossistemas dunares são sistemas naturais muito sensíveis, cujo equilíbrio tem vindo a ser colocado em causa devido ao impacto das actividades humanas. A sua destruição terá consequências negativas na orla costeira, concretamente no aumento da erosão marinha e na degradação de algumas actividades económicas.

Servindo de protecção às transgressões do nível do mar, as dunas servem de “tampão natural” à violência das ondas, criando com elas um equilíbrio dinâmico e protegendo a conservação e utilização dos solos que estão a sotavento.

As dunas desempenham também um papel importante ao evitarem a contaminação dos aquíferos continentais pela água salgada, a salinização dos solos, a destruição das infra-estruturas humanas e a abrasão marítima das falésias.

Em situações de litoral agressivo e de subida do nível médio do mar, a preservação e protecção das dunas ganha uma dimensão estratégica na defesa de pessoas e bens e uma dimensão ecológica no que toca à defesa de um sistema sensível às alterações ambientais provocadas pelo Homem.


Cabe a cada um de nós a defesa e a protecção das dunas pois, ao evitar a sua destruição, estamos a proteger um pouco da nossa “casa” - o planeta Terra.



sábado, 3 de julho de 2010

Os Poetas do Parque

José Gomes Ferreira (1900-1985)

Parte 2

A OBRA

Neste segundo passeio com José Gomes Ferreira pelo Parque dos Poetas, iremos falar um pouco da sua vastíssima obra, com destaque para a obra poética.

José Gomes Ferreira, como já anteriormente dissemos (Parte 1), revela em toda a sua obra ser um homem social e politicamente empenhado e atento a todas as mudanças que ocorreram à sua volta, o que se reflecte marcadamente nas suas reacções e revoltas face aos problemas e injustiças do mundo.

POESIA

Toda a obra poética de José Gomes Ferreira apresenta variadas influências, desde o neo-realismo ao visionarismo surrealista e até ao saudosismo, numa dialéctica permanente entre a realidade e a irrealidade, entre tendências quer individualistas quer de necessidade de partilha do sofrimento dos outros.

Da sua obra poética destacam-se:

"Lírios do Monte"
Obra poética publicada em 1918, que marcou a estreia literária de José Gomes Ferreira, tendo mais tarde vindo a ser renegada pelo autor. A propósito desta obra escreveu:

Aos 17 anos, imberbe e cândido, possuía na gaveta toda a natureza metrificada e escrita, num caderno a que pus este título de sabor botânico: Lírios do Monte. Anos depois (...) parti com um amigo em peregrinação de estudo para o campo (...) - Olha: aqui tens os abrolhos. Já os conhecias? - Não, respondia eu, em êxtase de ignorância lírica. Só sabia que abrolhos rimavam com olhos. E as boninas? As que rimam com as colinas? Onde estão? (...) Um dia encontrámos no vale uma flor entranhadamente roxa. - Que é? perguntei curioso. Nunca vi essa flor! - Nem eu, respondeu o meu companheiro (...) Passados dias (meu Deus! Que vergonha!) entra-me o meu amigo pelo quarto, a gritar: - Sabes que flor é? - Não! - Não fazes ideia, pá? - Não! - Faz um esforço! - Não! - Pois ouve e não desmaies: é um lírio do monte! (...) Quando lembro este episódio e folheio, colérico, os ignóbeis Lírios do Monte, sinto ganas de ir à procura de todos os meus antigos professores do liceu para pedir-lhes explicações e quebrar-lhes a cara! (...) Vocês são os responsáveis de tudo: das boninas, das avenas, dos abrolhos a rimarem com olhos, dos lírios a rimarem com martírios e de toda a minha ignorância do mundo exterior a empurrar-me para a ilusão de só existir beleza dentro de mim.


Apesar de nesta obra estar patente um certo saudosismo bucólico (denunciado pelo próprio poeta), já é possível encontrar nela um princípio de solidariedade contestatária:


"Longe"


É a sua segunda obra, um livro de sonetilhos lançado em 1921 que, apesar de ter sido considerada pelo próprio autor uma obra menor (“Longe… para quando o Perto?”, interroga-se), teve grande sucesso entre o público, esgotando-se rapidamente. Foi reeditado em 1927 pela "Seara Nova".


Nestes poemas o vocabulário e a temática utilizados enquadram-se nos moldes de Teixeira de Pascoaes, do início dos anos 20, mas já com semelhanças com Mário de Sá-Carneiro e com a desmistificação histórica de Álvaro de Campos e a própria sebastiânica mitologia de Fernando Pessoa, apesar de só se ter revelado mais tarde, com "Mensagem":

"Ó Mar das Índias, ó Aia,
embalaste a Nau da Fama;
mas hoje dormes na praia,
a tua doirada cama.


...Depois a Nau Catrineta
que é Portugal, ó Poeta,
...encalhou então no Mundo...
E há mais de quinhentos anos
que vós andais, Lusitanos,
a evitar que vá ao fundo..."

"Marchas, Danças e Canções"
Obra publicada em 1946 em que José Gomes Ferreira aparece como colaborador.

"Poesia I"
Colectânea de poesia editada pela primeira vez em 1948 e considerada pelo próprio autor o seu verdadeiro livro de estreia. Desta edição foi feita uma tiragem especial de 30 exemplares, numerada, em papel de linho, de uma edição do autor, com um poema autógrafo e um retrato de José Gomes Ferreira por Maria Keil.

Considerado o primeiro livro de adulto do escritor, reflecte já o seu "ódio ao fascismo, cólera e protesto contra injustiças".

Aqui, nesta praia amarela

(no dia do tratado de Munique)

"Aqui, nesta praia amarela,
ainda fúria acesa
do sol da criação,
no princípio do mundo
um homem surgiu nela
- espanto vagabundo
sem pátria e sem inferno,
feliz na sem-razão -
e olhou para o mar
surpreendido
de ver o céu caído
e mais natureza
a nascer-lhe no olhar.
Hoje, nesta praia do sul
ao pé dum velho Forte,
quando a luz outoniça
e parda do poente
voa no céu azul
todo o mistério dos fossos
- um poeta altivo e mudo,
com pátria,
com inferno,
com morte
e, principalmente,
com esta dor da justiça,
olha com espanto para tudo:
caos de lágrimas e ossos,
cóleras de Primavera,
raivas de mar profundo...
E os homens de novo à espera
do princípio do mundo."

"Homenagem Poética a Gomes Leal"

Colaborou na homenagem a Gomes Leal numa obra que foi publicada pela primeira vez em 1948.

"Líricas"
Colabora com Fernando Lopes-Graça em Líricas, obra publicada em 1950

"Poesia II"
Colectânea de poesia cuja primeira edição saiu em 1950. Mais tarde, de uma edição do autor, fez-se uma tiragem especial de 30 exemplares, numerada, em papel de linho, com um poema autógrafo e um retrato do autor por Manuel Ribeiro de Pavia.

Menino que vais na rua

(Serenata cínica para o Bettencourt cantar:)

"Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.
Aprende a pisar o Mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.
Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.
Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.
Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! Quebra os ossos
dessa criança de colo.
Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata:
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou, então, salta p'rá lua
e mija de lá na terra."

"Eléctrico"

Colectânea de poemas publicada pela primeira vez em 1956. Depois da 2ª edição, em 1957, estes poemas foram incluídos em “Poesia III”.

O nome desta obra deve-se ao facto de José Gomes Ferreira se ter inspirado e escrito durante uma viagem de eléctrico, dado que trazia sempre no bolso um bloquinho de apontamentos. Isto mostra a importância e atenção que o autor prestava a tudo o que o rodeava.
"Poesia III"
Colectânea de poesia publicada pela primeira vez em 1961.

Esta foi a sua primeira obra premiada com o “Grande Prémio de Poesia” da Sociedade Portuguesa de Escritores, o que viria a ser um marco decisivo para a afirmação de José Gomes Ferreira no seio da Literatura Portuguesa.

Ah! Como te invejo

Ah! Como te invejo,
pássaro que cantas
o silêncio das plantas
-- alheio à tempestade.

Vives sem chão
ao sol a cantar
a grande ilusão
da liberdade...

(...com algemas de ar.)

"Poesia IV"
Colectânea de poemas publicada em 1970.

Ousaram fechar um homem na treva

(No túnel antes de chegar à estação de S. Bento, no Porto)

"Ousaram
fechar um homem na treva
promovê-lo ao silêncio
impor-lhe muros de sede.
E agora?
Ei-lo sozinho,
terror de olhos secos
com uma lâmpada de lágrimas no coração
a furar um túnel de névoa na parede.
Ousaram
iluminar a treva com homens."

"Poesia V"

Colectânea de poemas publicada em 1973.

Dantes os Pastores das Éclogas

"Dantes os Pastores das éclogas
perfumavam a solidão
com endechas de amor límpido
punham capelas nas tranças de Belisa,
as pastoras perdiam os chapins de cristal nos outeiros,
banhavam-se nos rios
em busca das formas iniciais,
pedras de rostos nus
- e as bem-amadas
dormiam nos olhos das ovelhas
a mastigarem o silêncio
de sombras resignadas.
Hoje, o meu vaqueiro
não suspira por Jana
nem canta os amores de Lia
- solidão de bosta,
peles repelentes,
mijo seco,
sémen repelido,
só as pedras de lavam,
o orvalho cheira a suor
no sexo das urtigas
- o galo desce do seu trono de lama,
orgulhoso do trilho das pegadas
com estrelas de três pontas
a chapinharem no lodo, pústulas, minhocas, lesmas, lixo, vasas...
Enquanto ao longe
na melodia da manhã
as aves erguem devagar
os horizontes nas asas."

"Poeta Militante"
Os três volumes de “Poeta Militante”, editados em 1978, englobam toda a poesia de José Gomes Ferreira publicada desde 1931.

Toda a obra é caracterizada pelo paradoxo da realidade objectiva interiorizada das suas próprias observações subjectivas. O poeta impõe a sua interpretação da realidade, uma visão muito particular das vicissitudes, traduzida numa irracionalidade poética muito própria.

Outra característica importante desta obra encontra-se bem identificada no que nos diz Mário Dionísio no seu prefácio: "É esse talvez o seu segredo mais secreto: escrever não sabendo o que se diz, só o sentindo e só desse sentir sempre imprevisto, mesmo quando se repete - e muitas vezes se repete -, conseguir chegar ao que poderá chamar-se pensamento".

Como praticamente todas as obras do autor, esta é também uma obra autobiográfica, inclusivamente um dos seus mais conhecidos subtítulos é "Viagem do Século Vinte em Mim". Como refere também Mário Dionísio: "...a sua poesia não avança - ideologicamente falando -, aprofunda. E, quanto mais fundo vai chegando, mais desvenda o rosto mutilado dum homem preso nas algemas que ele próprio forja e que resiste, delas tentando libertar-se, sendo ele próprio esse rosto, as algemas e a ânsia de liberdade."

O próprio José Gomes Ferreira que a comentava, numa entrevista que deu a 12 de Janeiro de 1978: "Como vê, em mim, a expressão 'Poeta Militante' não tem uma conotação puramente política, ou apenas política (...) é uma militância poética, mais do que qualquer outra coisa. Não escrevo poesia militante. Sou um poeta militante. (...)Um homem que reage politicamente diante das coisas da vida..."

Estes poemas, cuja organização em séries e conjuntos com datas desfazadas do momento de publicação, mais parecem “diários em verso” onde, o protesto, a apaixonada denúncia e a perseguição da “revolução impossível” os aproxima indubitavelmente do Neo-Realismo.

Choro!

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
as crianças violadas
nos muros da noite
húmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
— no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este sequestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
— onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueleto de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insónias e de cardos,
neste ódio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor a Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
— num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!

Quero voar


Quero voar
-mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
-mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade)

Acordai!

Acordai!
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raíz!

Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações...

Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.

ACORDAI!

FICÇÃO

- "O Mundo Desabitado" - 1960
- "O Mundo dos Outros - histórias e vagabundagens" - 1950
- "Os segredos de Lisboa" - 1962
- "Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo" - 1963
- "O Irreal Quotidiano - histórias e invenções" - 1971
- "Gaveta de Nuvens - tarefas e tentames literários" - 1975
- "O sabor das Trevas - Romance-alegoria" - 1976
- "Coleccionador de Absurdos" - 1978
- "Caprichos Teatrais" - 1978
- "O Enigma da Árvore Enamorada - Divertimento em forma de Novela quase Policial" - 1980

CRÓNICAS

- "Revolução Necessária" - 1975
- "Intervenção Sonâmbula" - 1977

MEMÓRIAS E DIÁRIOS

- "A Memória das Palavras - ou o gosto de falar de mim" - 1965
- "Imitação dos Dias - Diário Inventado" - 1966
- "Relatório de Sombras - ou a Memória das Palavras II" - 1980
- "Passos Efémeros - Dias Comuns I" - 1990
- "Dias Comuns II - A Idade do Malogro" – 1998
- “Dias Comuns III – Ponte Inquieta” - 2000

CONTOS

- "Contos" - 1958
- "Tempo Escandinavo" - 1969

ENSAIOS E ESTUDOS

- "Guilherme Braga" (colaboração na "Perspectiva da Literatura Portuguesa do séc. XIX") - 1948
- "Líricas" (colaboração) - 1950
- "Folhas Caídas" de Almeida Garrett (introdução) - 1955
- "Contos Tradicionais Portugueses" (colaboração na escolha e comentação; prefácio) - 1958
- "A Poesia de José Fernandes Fafe" (prefácio a “Poesia Amável”) - 1963
- "Situação da Arte" (colaboração) - 1968
- "Vietnam (os escritores tomam posição)" (colaboração) - 1968
- "José Régio" (colaboração no "In Memorium de José Régio") - 1970
- "A Filha do Arcediago" de Camilo Castelo Branco (nota preliminar) - 1971
- "Lisboa na Moderna Pintura Portuguesa" (colaboração) - 1971
- "Uma Inútil Nota Preambular" de Aquilino Ribeiro (introdução a "Um Escritor confessa-se") - 1972

TRADUÇÕES

- "A Casa de Bernarda Alba" de Frederico Garcia Lorca (colaboração)
- "O Livro das Mil e Uma Noites" - 1926

DISCOGRAFIA

- "Poesia" - série "Poesia Portuguesa", Philips - 1969
- "Poesia IV" - série "Poesia Portuguesa", Philips - 1971
- "Poesia V" - série "A Voz e o Texto", Decca / Valentim de Carvalho - 1973
- "Entrevista 12 - José Gomes Ferreira" série "Disco Falado", Guilda da Música / Sassetti - 1973

A mensagem que nos deixou José Gomes Ferreira continua actual e reflecte a vivência real de um homem com os cinco sentidos bem despertos para tudo o que o rodeia. Um autor que acima de tudo coloca o seu individualismo ao serviço da urgência do social. A sua vasta obra mostra bem esse seu desejo de mudar o Mundo, o que acredita conseguir fazer com o poder da palavra.

Autores: Argos e Tétis