Vítima de cancro no pâncreas, morreu o actor António Feio. O seu corpo está em câmara ardente no Palácio Galveias, junto ao Campo
Pequeno, em Lisboa. O funeral realiza-se este sábado às 16 horas para o Cemitério dos Olivais.
"Depois de ano e meio a lutar contra o cancro no pâncreas, António Feio morreu perto da meia-noite, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde estava internado desde quarta-feira.
Aos 55 anos, o actor deixa um percurso memorável no teatro, em particular na comédia, e com presenças marcantes também na televisão. A sua personagem mais famosa será talvez ‘Toni’, da peça ‘A Conversa da Treta’, que partilhou ao lado de José Pedro Gomes, companheiro de diversas investidas na comédia. A dupla era imbatível na análise às qualidades e defeitos de se ser português.
Nascido em Lourenço Marques a 6 de Dezembro de 1954, mudou-se para Lisboa aos sete anos e a família instala-se em Carcavelos.
Ainda quando estava no Liceu de Nova Oeiras, a mãe, Ester, começa a ensaiar uma peça (‘A Casa de Bernarda de Alba’, de Garcia Lorca) no Teatro Experimental de Cascais. Feio acaba por aceitar o convite de Carlos Avilez para fazer a peça ‘O Mar’, de Miguel Torga, que se estreia em 1966.
A partir daí, entra em diversas peças de teatro na televisão, folhetins na rádio, publicidade e filmes.
Em 1969, regressa a Lourenço Marques. Continua os estudos, no Liceu Salazar, e faz uma digressão por Moçambique com a companhia Laura Alves, com a peça ‘Comprador de Horas’.
Chegou a estudar para ser desenhador, mas continua ligado ao teatro ao longo da década de 70. Acaba por se tornar conhecido de toda a gente, graças à sua personagem de toxicodependente na segunda telenovela portuguesa, ‘Origens’.
Quanto ao percurso nos palcos, o seu currículo inclui o Teatro Popular-Companhia Nacional I, o Teatro São Luiz, o Teatro Adoque, o Teatro ABC, a Casa da Comédia, o Centro de Arte Moderna, o Teatro Aberto, o Teatro Variedades, o Teatro Nacional D. Maria II e muitos outros grupos e projectos pontuais.
Faz muitas traduções e algumas das suas dobragens para televisão tornaram-se famosas.
Começa a encenar e o primeiro espectáculo é ‘Pequeno Rebanho Não Desesperes’, na Casa da Comédia. Segue-se ‘Vincent’, numa galeria de arte nas Amoreiras e ‘O Verdadeiro Oeste’, em Benfica.O arranque da dupla com José Pedro Gomes surge no início da década de 90, como actor, em ‘Inox-Take 5’.
Começa a dar aulas no Centro Cultural de Benfica e forma com vários alunos alguns grupos: “O Esquerda Baixa” e o “Pano de Ferro”, e com eles faz alguns espectáculos. A dupla assinou uma série de espectáculos que foram um sucesso sempre a crescer: ‘Conversa da Treta’, ‘O Que Diz Molero’, ‘Arte’, ‘Pop Corn’, ‘Jantar de Idiotas’, ‘O Chato’, ‘2 Amores’.
O facto de ‘Conversa da Treta’ ter chegado à televisão e ao cinema, tornou o rosto de Feio e de José Pedro Gomes um modelo da nova comédia popular.
Já doente, terminou a carreira de ‘A Verdadeira Treta’, como actor, e assinou duas encenações: ‘Vai-se Andando’ e uma versão de ‘Auto da Índia’, de Gil Vicente.
A 27 de Março deste ano, Dia Mundial do Teatro, foi distinguido por Cavaco Silva e passou a comendador da ordem de Infante D. Henrique. Visivelmente emocionado na cerimónia, que decorreu no Museu dos Coches, desabafou: “O teatro, para nós, é e será sempre uma festa.” António Feio viveu a fazer os outros felizes."
(In: Correio da Manhã, 30-7-2010)
O trabalho era para ele, também, "uma válvula de escape".
Foi aos 11 anos que pisou pela primeira vez um palco de teatro e até ao fim afirmou: "É o que gosto de fazer, não sei fazer mais nada."
Apesar da doença que o devastava há mais de um ano, mesmo nas últimas semanas de vida, António Feio não deixou de ter um olhar crítico sobre a sociedade, como demonstra a sua última mensagem na sua página do Facebook, no dia 17: "Esqueçam a minha doença! Parem para pensar! Eu sou português, agora já sou Comendador, mesmo que não fosse (LOL), devo, gostava e devia de-fender a imagem de Portugal tanto cá como no mundo... mas não consigo! Será que não há ninguém que saiba gerir este País com seriedade, competência, rigor financeiro, justiça e respeito por todos nós?"