sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tétis

Agora é a minha vez.

Sou Tétis, a Nereida e vou contar-lhes quem sou e porque aparece aqui o meu nome.

Sendo o Mar um dos maiores elementos da Criação, não podemos ficar indiferentes à sua grandeza, mistérios e simbolismos. Espaço lendário, associado a numerosos mitos e lendas, povoado por um variado bestiário fabuloso e até por ilhas encantadas e utópicas, o Mar é o símbolo da fecundidade e da Vida, e uma das grandes metáforas do Amor.

A literatura e cultura portuguesas estão recheadas de Mar. Desde sempre, o Mar tem sido a nossa paisagem quotidiana, impregnando profundamente as tradições, a literatura, a arte e praticamente todos os aspectos da cultura portuguesa.
A inspiração marítima é tão antiga como a nossa literatura. Já nos séculos XII, XIII e XIV, os poetas trovadorescos e palacianos tinham “descoberto” o Mar, bem antes das Descobertas quinhentistas. Ainda nos alvores da nacionalidade, o apelo do Mar já se fazia sentir no lirismo amoroso galaico-português, com suas barcarolas ou marinhas, inspiradas na temática marítima.

Uma vez que os amigos que conceberam e construíram este blog, talvez devido à situação geográfica do lugar em que nasceram (Península Ibérica), são todos apaixonados pelo Mar, e daí o próprio nome do blog, nada mais apropriado para nos identificarmos do que nomes relacionados com esse Mar que tanto amamos.

- E Tétis, a Nereida, porquê Tétis e não outra ?

Para dizer a verdade, foi Camões quem teve a culpa!...

Foi o nosso grande Luís de Camões quem dedicou um carinho especial a Tétis, ao mencioná-la várias vezes em “Os Lusíadas” e ao mostrar ao mundo toda a sua beleza e poder de sedução. Lembremo-nos sobretudo os belíssimos versos que relatam o “Amor de Adamastor por Tétis” e o episódio da “Ilha dos Amores”.



Tétis

Tétis é uma ninfa do mar, uma das cinquenta Nereidas, neta de Tétis, a titânide (na mitologia grega, as Nereidas eram as cinquenta filhas, ou cem, segundo outros relatos, de Nereu e de Dóris, veneradas como ninfas do mar, gentis e generosas, sempre prontas a ajudar os marinheiros em perigo. Pela sua beleza, as Nereidas também costumavam dominar os corações dos homens).

Tétis era a mais bela das irmãs Nereidas e mãe do grande herói grego Aquiles.
Pela sua beleza era cobiçada por vários deuses. Zeus e Poseidon desejaram ambos conquistá-la, quase chegando ao ponto de lutar entre si. Quando, porém, o oráculo vaticinou que se ela casasse com um deus daria à luz um filho mais poderoso do que o seu próprio pai, o entusiasmo de ambos arrefeceu. Ao tomar conhecimento desta profecia, Zeus desistiu da ninfa, apesar de sentir muito desejo por ela, e encarregou-se de fazê-la desposar um mortal, para que de nenhum modo a ordem do universo se alterasse.

A escolha caiu no seu neto Peleu, rei da Tessália. Tétis não queria casar-se e usava a sua capacidade de assumir diversas formas, característica das divindades marinhas, para tentar escapar do "noivo". Peleu, porém, não se assustou com as transformações e segurou-a com firmeza, até que a deusa finalmente voltou à sua forma original e acedeu a casar-se.
Todos os deuses foram convidados e todo o Olimpo assistiu às núpcias do casal, no monte Pélion, excepto Éris (a antiga divindade que personifica a discórdia) que, por vingança, tramou o episódio do “pomo de ouro” que virá a desencadear a guerra e a destruição de Tróia.

Casamento de Tétis e Peleu, Cornelius van Haarlem (1562-1638)


Da união de Tétis e Peleu nasceram sete filhos. Para purificar as crianças dos elementos mortais herdados do pai, Tétis expunha-as ao fogo, provocando a morte dos seis primeiros filhos. Quando tentou purificar o seu sétimo filho, Aquiles, Peleu interferiu, salvando a criança de morrer. Irritada e frustrada na sua tentativa de tornar Aquiles imortal, Tétis abandonou o marido e retornou ao fundo do mar. Conseguiu, no entanto, tornar Aquiles invulnerável mergulhando-o no Estige, rio subterrâneo que corria no Hades. Mas, como teve de segurar a criança pelos calcanhares, essa parte do seu corpo continuou vulnerável.

Tétis protegeu o filho durante toda a vida do herói, tentando afastá-lo dos perigos e consolando-o nas tristezas. Aquiles tornou-se o mais poderoso dos guerreiros gregos mas Tétis não pôde, entretanto, evitar que ele morresse na guerra de Tróia, pois assim havia decretado o Destino.

Tétis banhando Aquiles no Estige, Donato Creti (1671-1749)

8 comentários:

  1. Hola Tétis,
    Muy interesante saber quien fue la esposa del oceano,la madre de Aquiles y esposa de Peleo.

    Ah tambien me hace pensar en un proverbio frances que dice :

    " ce que femme veut, Dieu veut"
    lo que una mujer quiere, Dios quiere..

    Um abrazo amiga Tétis

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  2. Hola Tétis,
    Es muy interesante esta historia que has contado sobre esta nereida.
    Es cierto que la vida de los seres humanos ha ido siempre vinculada a la mar y más en nuestra península ibérica,que estamos prácticamente rodeados por este elemento símbolo de vida.

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  3. Olá Poseidón,

    Tens toda a razão em ter citado esse provérbio francês: "ce que femme veut Dieu veut" = "lo que una mujer quiere, Dios quiere" = "o que a mulher quer, Deus quer".

    Mas, neste caso, não se trata duma mulher qualquer, falamos de Tétis a cuja beleza nem os deuses resistiam...

    Citarei alguns versos de Camões que ilustram esse poder de sedução de Tétis:

    "Amores da alta esposa de Peleu
    Me fizeram tomar tamanha empresa.
    Todas as Deusas desprezei do céu,
    Só por amar das águas a princesa.
    Um dia a vi coas filhas de Nereu
    Sair nua na praia, e logo presa
    A vontade senti de tal maneira
    Que ainda não sinto coisa que mais queira"


    "Já néscio, já da guerra desistindo,
    Uma noite de Dóris prometida,
    Me aparece de longe o gesto lindo
    Da branca Tétis única despida:
    Como doido corri de longe, abrindo
    Os braços, para aquela que era vida
    Deste corpo, e começo os olhos belos
    A lhe beijar, as faces e os cabelos


    "Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano,
    Já que minha presença não te agrada,
    Que te custava ter-me neste engano,
    Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?
    Daqui me parto irado, e quase insano
    Da mágoa e da desonra ali passada,
    A buscar outro inundo, onde não visse
    Quem de meu pranto e de meu mal se risse.


    (Os Lusíadas, "Amor de Adamastor por Tétis").

    Um abraço amigo

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  4. Hola Tétis,
    Como debes saber en frances tambien decimos :
    "la femme est l'avenir de l'homme"

    No se puede negar que la mujer es quien da la vida, tiene el sexto sentido, asi como mas capacidad para resistir en muchas cosas...

    Al final sera quien mas domina?
    Un abrazo amiga tb para ti.

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  5. Tétis,

    Parabéns por este post tão bem conseguido. Um pequeno “grande” passeio através da mitologia e da literatura tendo como base o mar.
    Um mar que faz parte de todos os que construíram este blog e que atrai com muita intensidade.
    Vou fazer minhas as palavras de Jacques Cousteau para melhor explicar:
    “Uma vez atingido pelo feitiço do mar, nunca deixamos de nos maravilhar com ele.”

    Abraço

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  6. Hola Yoli

    Gracias pelo teu comentário.

    Fico contente por termos entre nós mais um filho(a) de "nuestra península ibérica" em quem o mar tão marcadamente deixou a sua influência para todo o sempre.

    Volta a visitar-nos, o nosso farol terá sempre a porta aberta para te receber.

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  7. Olá Poseidón,

    Com esta tua frase "la femme est l'avenir de l'homme" levantas uma questão acerca de um "enigma" que de há muito ainda ninguém conseguiu desvendar.

    Mas, como deves calcular, não vou aqui iniciar uma "guerra dos sexos"!...

    Um grande abraço

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  8. Olá Argos,

    Pois é verdade, Tétis permitiu-me esta pequena incursão em simultâneo pela literatura e pela mitologia, mas tendo sempre o Mar como pano de fundo.

    Adorei a citação que fizeste de Jacques Cousteau. O Mar exerce mesmo um feitiço em nós, um feitiço tão poderoso que nunca o poderemos arrancar e por isso ficará por todo o sempre agarrado, entranhado em nós como um pedaço do nosso "eu".

    Um grande abraço

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