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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Júlio Pomar

Este artigo tem uma dupla finalidade: ser mais um contributo para a divulgação e conhecimento do Poeta do Parque, com quem acabámos de estar em cinco posts – Fernando Pessoa – e falar um pouco de um artista plástico português que é já um nome consagrado na arte europeia – Júlio Pomar.

Do neo-realismo à modernidade

Júlio Pomar é um pintor e escultor português que nasceu em Lisboa, em 1926. Frequentou a escola secundária António Arroio e as Belas Artes de Lisboa e Porto.

No início da carreira foi influenciado por neo-realistas como Alves Redol ou Soeiro Pereira Gomes, ligados ao Partido Comunista. Fora do país, tem como referência o brasileiro Cândido Portinari e os grandes muralistas mexicanos Orozco, Rivera e Siqueiros, que o encorajaram a fazer da arte um veículo de intervenção sociopolítica.

Em 1945, Pomar expôs uma das suas obras paradigmáticas, “O Gadanheiro”, na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). O crítico Mário Dionísio escreveu a propósito o artigo “O princípio de um grande pintor?”

Pomar assumiu-se então como um agitador da contestação do regime, promovendo a I Exposição da Primavera no Ateneu Comercial do Porto, onde se agruparam artistas que recusavam qualquer colaboração com o salazarismo.

A sua intervenção nas lutas estudantis custou-lhe a interdição da frequência na Escola de Belas Artes do Porto.

Para a decoração do Cinema Batalha naquela cidade, foi-lhe encomendado um grande mural, mandado destruir pela polícia política poucos meses depois da abertura da sala ao público.

Pomar regressou a Lisboa, onde foi preso durante quatro meses. Nesse período, o seu quadro “Resistência” foi apreendido na I Exposição Geral de Artes Plásticas.

Em 1950, realizou uma exposição individual na SNBA, em Lisboa, onde apresentou obras marcantes da pintura portuguesa do século XX como o célebre “O Almoço do Trolha”. Esta obra valeu-lhe o título de principal cultor do Neo-Realismo na pintura portuguesa.

Nos anos 60 radicou-se em Paris. Em 1968, inspirado pela revolta dos estudantes, pintou uma série subordinada ao tema da insurreição.
Quando se deu o 25 de Abril de 1974, Júlio Pomar encontrava-se em Lisboa, onde permaneceu nos meses seguintes, vivendo os acontecimentos revolucionários.

Mantém-se activo, enquanto artista, escultor, ilustrador e, mais recentemente, também como escritor, trabalhando em Paris e Lisboa.

Júlio Pomar foi consagrado, há muito, como um dos nomes maiores da arte europeia.



Júlio Pomar e Fernando Pessoa

Até a década de 50, o artista plástico Júlio Pomar manteve-se fiel à corrente do neo-realismo. As suas telas eram marcadas pelo teor político e pela crítica social. Depois passou a experimentar estilos variados, pinturas, gravuras, desenhos e esculturas, evidenciam essa posterior diversidade.

Destaca-se a ligação de Pomar com a literatura, onde surgem ilustrações com pinturas e desenhos sobre temas literários e retratos de escritores. É o caso do nosso Poeta do Parque – Fernando Pessoa, presente em muitos desenhos, retratos e pinturas de Júlio Pomar.

Se há pintores para quem nunca fez sentido “pintar sempre o mesmo quadro”, um deles será indubitavelmente Júlio Pomar. Com efeito, a sua obra é caracterizada por uma enorme diversidade de linguagens pictóricas, processos e materiais, todos eles reunidos numa constante interrogação da pintura e do quadro, nos tempos vários das suas realizações. Na sua obra encontram-se períodos distintos, aparentemente contraditórios nos seus paradoxos, séries em cuja autoria se revela o exercício de uma “heteronímia” consequente dos momentos de vida e de trabalho diferenciados em que ocorreram.

Será esta “heteronímia” que aproxima estas dois grandes nomes das artes portuguesas ?


Apresentam-se algumas imagens da interessantíssima obra de decoração mural em azulejo para a Estação Alto dos Moinhos do Metropolitano de Lisboa, (1983-84), em que Fernando Pessoa é uma dos grandes vultos portugueses ali representados por Júlio Pomar.