Despertar na cidade
Uma manhã fria, daquelas em que a aragem gelada parece atravessar todas as camadas de roupa que envergo.
Fiapos de nevoeiro levantam do rio e as aves marinhas já esquadrinham o lodo da maré baixa em busca de alimentos. Lá em cima, as gaivotas lançam os seus gritos junto à ponte, saudando o novo dia.
Alguns adeptos do exercício físico matinal passam por mim, poucos que ainda é muito cedo e o frio aperta! Um deles levanta a mão numa saudação muda.
Perto do relvado, um idoso solitário, de sobretudo, passeia o seu pequeno cão castanho, artrítico, um pouco obeso e com os anos a pesar nos pelos brancos do focinho. Porque é que quase todos os idosos que encontro no meu passeio se assemelham? Passo vagaroso, olhar perdido, dirigindo algumas palavras ao cãozito que os acompanha.
O sol consegue eliminar o nevoeiro, mas pouco aquece no céu azul. Já fui longe, ao longo da marginal e apetece-me uma bebida bem quentinha.
A iluminação pública apaga-se e aumenta o bulício do trânsito.
Volto para trás, pensando no aroma do café que me espera e encontro aquela senhora de idade avançada, figura já conhecida, que sai da padaria com dois pães quentinhos dentro de um saco de papel pardo. Trocamos algumas palavras, passou mais uma vez, a noite nas urgências do hospital. De manhã já não sentia “palpitações” e “deram-lhe” alta.
Quantas vezes por semana passa a noite no hospital? Quase todas!
Será que a equipa da urgência já se apercebeu que a sua “doença cardíaca” se deve ao silêncio nocturno de uma casa vazia? Talvez por isso a deixem passar as noites em observação, numa cama desocupada.
Antes de entrar no “Pão Quente” sigo até ao Multibanco mais perto. Uma funcionária de uma conhecida empresa de limpezas, espera no passeio com um ar um tanto comprometido.
Olho pela porta envidraçada e vejo um sem abrigo a dobrar os cobertores; arruma-os na mochila gasta, calça rapidamente os sapatos e veste o casaco. Sai com a cabeça baixa murmurando uma evasiva. Em jeito de desculpa, a funcionária diz-me:
- Passa aqui muitas noites. Não é má pessoa, coitadinho!
Sigo-o com olhar, até o perder de vista na “minha” cidade que acorda…
Triste relato amigos, mas desgraciadamente, y más en estos tiempos, con muchos tintes de realidad.
ResponderEliminarEs preferible pasar la noche en una cama de urgencias hospitalarias,
que entre cartones, a la intemperie.
Me cuesta algo entenderlo, pues no encuentro donde traducir.
Besos. María
Olá Argos
ResponderEliminarSua narrativa foi tão perfeita, que pude visualizar cada detalhe das cenas. E a vida continua...
Grande abraço
Meu amigo!
ResponderEliminarQue lindo!
Amei esse texto Argos.
Belamente escrito.
Beijo.
Fernanda.
Meus amigos
ResponderEliminarFaltam-me as palavras...é chocante e cada vez pior.
Deixo um beijinho
Sonhadora
Me encanta leer en portugués. Para mi es un ejercicio mental.
ResponderEliminarGracias por deleitarnos.
Besitos de fin de semana.
Querido amigo, essa é a realidade das grandes cidades. Tenha um lindo final de semana. Beijocas
ResponderEliminarEu te ofereço flores
ResponderEliminarComo prova de amizade
Flores de todas as cores
Com cheiro de felicidade
Denise Pires
BOM FDS....Beijos meus! M@ria
Diga-me que sou o futuro,
ResponderEliminarNão me desampares no presente.
Diga-me que sou a esperança da paz,
Não me induzas à guerra.
Nancy Amorim
BOM FDS E BEIJOS MEUS! M@ria
É o retrato cada vez mais real da
ResponderEliminarcidade que já foi alegre,que já foi
colorida!
Beijo.
isa.
Es la tremenda realidad, querido amigo...La imágen habla por si sola...Es un problema que va en aumento en las grandes ciudade.No deberia existir esta situación en los tiempos que vivimos,este problema deberia estar resuelto...El mundo desde siempre ha estado muy repartido por desgracia...Tengo que decirte que me cuesta leer el Portugues...Para el idioma soy un poco tozuda...espero haber entendido bien...besos y buen finde
ResponderEliminarObrigada!
ResponderEliminarAbraço grande.
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ResponderEliminar( '.' )
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BUENAS TARDES AMIGAOS
TIENEN UN REGALITO EN MI BLOG MUNDO ANIMALLLLL
UN ABRAZOOOO
CHRISSSSS
Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
ResponderEliminar[ Clarice Lispector ]
Boa Noite.......Beijos & Flores! M@ria
Busco lindas estrelas lá no céu,
ResponderEliminarNo céu de manto escuro, sem luar,
E o firmamento, em calmo e suave véu,
Mostra miríades delas a brilhar
J.Udine
Feliz Domingo...Beijos meus! M@ria
Mis queridos amigos despues de retirarme por un tiempo obligatorio de mi espacio, regreso. Espero seguir teniendo vuestros corazones conmigo y vuetras letras para poder seguir venir a visitaros. Os dejo un besazo a los tres y mi cariño siempre
ResponderEliminarhola amigo ARGOS,
ResponderEliminarUn texto muy bien escrito que nos dice tantas verdades que ocurren a muchos en esta sociedad y ciudades.
Te deseo y deseo a todos lo mejor en esta vida siempre.
Grande abraço amigo
A todos os amigos que leram o texto e deixaram aqui o seu comentário, o meu obrigado.
ResponderEliminarO meu desejo? Que o despertar da cidade, seja de facto um despertar para todos!
Abraço para todos vós
Querido amigo
ResponderEliminarObrigada pelo belo texto que aqui nos deixaste e que, estou certa, é mais um dos muitos que escreves e onde exprimes tão bem e duma forma tão real todas essas "vivências" (embora teimes em lhes chamar "divagações"!...).
É cada vez mais importante e urgente que cada um de nós "desperte" e abra os olhos, esteja atento, intervenha em tudo o que se passa num "despertar na cidade".
Parabéns e obrigada uma vez mais pelos teus posts exemplares, que muito beneficiam e elevam a qualidade do nosso "Um Farol chamado Amizade".
Um imenso abraço
Um BOM despertar, se me permites!
ResponderEliminarBeijinho.