Vitorino Nemésio (1901-1978)
Parte 1
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, filho de Vitorino Gomes da Silva e Maria da Glória Mendes Pinheiro, nasceu a 19 de Dezembro de 1901, na cidade da Praia da Vitória, na Ilha Terceira, nos Açores.
É nesse arquipélago que fará os estudos primários e secundários.
Iniciou os estudos secundários no liceu de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, em 1912, onde cedo manifestou a sua vocação de poeta e prosador.
Colaborou em 1916 no “Eco Académico”, travando conhecimento com Jaime Brasil, seu mentor de iniciação literária e agnóstica. No mesmo ano dirigiu a “Estrela de Alva”, revista literária Ilustrada e noticiosa e publicou o seu primeiro livro de poemas “Canto Matinal”.
Não foi, no entanto, um aluno brilhante, dado que foi expulso do liceu de Angra e reprovou no 5.º ano, facto este que o levou a sentir-se incompreendido pelos professores.
Com 16 anos de idade, Nemésio desembarcou pela primeira vez na cidade da Horta, na Ilha do Faial, para se apresentar a exames como aluno externo do Liceu Nacional da Horta, tendo em 1918 concluído aí o 5º ano do liceu.
Apesar de ainda bastante novo, Nemésio chegou à Horta já imbuído de alguns ideais republicanos, pois em Angra do Heroísmo já havia participado em reuniões literárias, republicanas e anarco-sindicalistas, tendo sido influenciado pelo seu amigo Jaime Brasil, cinco anos mais velho e por outras personalidades como Luís da Silva Ribeiro, advogado, e Gervásio Lima, escritor e bibliotecário. Em 1918 o jornal “O Telégrafo” dava a notícia de que Nemésio, apesar de ser um “fedelho”, já tinha um ano antes da sua chegada à Horta enviado um exemplar do seu primeiro livro de poesia ao director de “O Telégrafo”, Manuel Emídio.
Em 1919, Vitorino Nemésio após um desaire escolar, iniciou o serviço militar como voluntário na arma de Infantaria, o que lhe proporcionou a primeira viagem a Lisboa.
Uma vez no continente, foi empregado de escritório em Lisboa e, em 1921, tornou-se redactor da “Imprensa Nacional” e de “A Pátria”, o que lhe permitiu privar com jornalistas como Norberto Lopes e Artur Portela e com dirigentes anarco-sindicalistas da CGT. Foi também um dos fundadores de “Última Hora”, precursor do “Diário de Lisboa”.
Em 1922 concluiu o liceu em Coimbra e inscreveu-se no curso de Direito onde, como revisor da Imprensa da Universidade, publicou o poema “Nave Etérea”. No ano seguinte, em que lhe morre o pai, é iniciado na Maçonaria, na loja Revolta, de Coimbra com o nome simbólico de Manuel Bernardos.
Começou também a colaborar na revista "Bizâncio", de Coimbra, e viajou para Espanha com o Orfeão Académico. Em Salamanca conheceu Miguel Unamuno, escritor e filósofo espanhol (1864-1936), intelectual republicano, e teórico do humanismo revolucionário anti franquista, com quem mais tarde trocaria correspondência.
Em 1924 abandonou o curso de Direito e matriculou se na Faculdade de Letras, em Ciências Histórico-Geográficas. Com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e Gaspar Simões, entre outros, fundou a revista "Tríptico".
Em 1925 optou definitivamente pelo curso de Filologia Românica, tendo sido também redactor principal do jornal "Humanidade", quinzenário de Estudantes de Coimbra. Nesse jornal colaboraram, entre outros, José Régio, João Gaspar Simões e António de Sousa.
Em 1926 fundou e dirigiu com Paulo Quintela, Cal Brandão e Sílvio Lima, o jornal "Gente Nova", jornal republicano académico e, a partir de 1928, passou a colaborar na revista "Seara Nova".
Em 1930 colaborou na revista "Presença", com textos poéticos. Em Outubro desse ano transferiu-se para a Faculdade de Letras de Lisboa onde começou a pesquisa sobre Herculano que o iria ocupar até ao fim da vida.
Licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1931, com elevadas classificações e ali iniciou o magistério, leccionando Literatura Italiana e dois anos depois, Literatura Espanhola.
Em 1934 doutorou-se em Letras pela Universidade de Lisboa com a tese “A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio”.
Após o doutoramento, vai para França como leitor de português na Universidade de Montpellier e é então que tem oportunidade de conviver com intelectuais como KarI Vossler, Marcel Bataillon, Robert Ricard, Pierre Hourcade. Durante esta estada em Montpellier publica o livro de poemas “La Voyelle Promise” (1935) e profere algumas conferências, mais tarde reunidas no volume “Études Portugaises” (1938).
Em 1935 colaborou no jornal "O Diabo" com vários poemas.
Em 1937 fundou e dirigiu, em Coimbra, em conjunto com Alberto Serpa , a "Revista de Portugal". No mesmo ano, partiu para a Bélgica tendo leccionado na Universidade Livre de Bruxelas durante dois anos. De regresso a Portugal em 1939, lecciona de novo na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Colaborou nos "Cadernos de Poesia", na revista "Variante" e na revista "Litoral".
Em 1944 foi editada a primeira edição de "O Mau Tempo no Canal", que recebeu no ano seguinte o “Prémio Ricardo Malheiros” da Academia das Ciências.
Em 1946 iniciou a sua colaboração no jornal "Diário Popular" e na revista "Vértice".
Em 1952 viajou pela primeira vez para o Brasil, que viria a tornar-se para Nemésio um destino frequente.
Entre 1956 e 1958 foi director da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, a partir de 1958, começou a leccionar no Brasil nas Universidades da Baía, Ceará, Rio de Janeiro, etc.).
Em 1960 interveio na reforma dos planos de estudos das Faculdades de Letras e viajou para África por causa dos cursos de extensão universitária em Luanda e Lourenço Marques.
Em 1963, torna-se sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.
Em 1965 preside à Comissão Nacional do V Centenário de Gil Vicente. Foi “doutor honoris causa” pela Universidade Paul Valery, de Montpellier e, no mesmo ano, recebeu o “Prémio Nacional de Literatura”, pelo conjunto da sua obra.
Em 1966 a Biblioteca e Arquivo Distrital de Angra comemorou os “50 Anos de Vida Literária de Vitorino Nemésio” com uma exposição bibliográfica e a realização de várias conferências.
É em 1969 que inicia uma colaboração regular na RTP com o programa "Se bem me lembro", que o imporá como figura impar em matéria de comunicação audiovisual.
Em 1970 inaugurou as comemorações do centenário da "Geração de 70" no Centro Cultural Português de Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian.
Iniciou em 1971 a sua colaboração regular na revista "Observador" e no mesmo ano, em 12 de Dezembro, atingido pelo limite legal de idade para exercício de funções públicas, profere a sua última lição na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ensinara durante quase quatro décadas, facto esse que deu lugar à publicação, em 1972, do seu “Limite de Idade”.
Recebe em 1974 o Prémio Montagine, da Fundação Freiherr von Stein/Friedrich von Schiller, de Hamburgo. No mesmo ano, a Livraria Bertrand lançou a primeira colectânea de estudos sobre a obra de Vitorino Nemésio.
Em 1975 colaborou na homenagem ao Prof. Aurélio Quintanilha, a quem dedicou "Limite de Idade". Em Dezembro desse ano assumiu a direcção do jornal "O Dia".
Em 1977 foi coordenador nacional do centenário de Alexandre Herculano.
Faleceu a 20 de Fevereiro de 1978, em Lisboa no Hospital da CUF, tenso sido sepultado, a seu pedido, em Coimbra. Pouco antes de morrer pediu ao filho para ser sepultado no cemitério de Santo António dos Olivais, em Coimbra, pedindo-lhe também que os sinos tocassem o “Aleluia” em vez do dobre a finados. O seu pedido foi respeitado.
Homem de letras dos mais fecundos e originais, poeta, ficcionista, ensaísta, cronista, professor e crítico literário, Vitorino Nemésio domina, com uma vasta obra de criação e de investigação, o campo da cultura e da literatura portuguesa do século XX.
Autores: Argos e Tétis
Meus queridos amigos
ResponderEliminarHoje a minha passagem por aqui é muito rápida (tenho pouco tempo).
Venho só trazer este recadinho:
A «Casa da Mariquinhas» festeja hoje o seu 3º.aniversário e oferece um selinho aos seus visitantes.
Dás-me o prazer de ir buscá-lo?
Boa semana. Beijinhos
Obrigada pela partilha,meus queridos.
ResponderEliminarSaudades do programa de TV :"Se bem
me lembro",saudades do grande Amigo
do meu Pai,do grande senhor da letras portuguesas.
Beijo.
isa
Gracias. Desconocía de él. Una razón más para seguir aprendiendo tu lengua!
ResponderEliminarGracias por esta entrada maravillosa.
ResponderEliminarEs un placer venir aquí y empaparnos de letras y poesía. También me ha encantado conocer, la vida y obra de tan grande poeta luso.
Besos. María.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
ResponderEliminarClarice Lispector
Desejo um Bom dia e o meu carinho à voce!
Agradeço sua visita........M@ria
Queridos amigos Tétis y Argos,
ResponderEliminarEsos poetas sensibles a lo bello y emocionante, soñadores de un ideal donde están?
Ya existen menos que antes, porque será?
- Será que vivimos en un mundo muy brutal y no da para que los poetas tengan su lugar?
Grande abraço a vocês dois.
Amigos
ResponderEliminarRegressei do Brasil onde estive bastante tempo, razão da minha ausência prolongada.
Ainda recebi o vosso lindo prémio,
"Um FarolChamado Amizade".
Se encontra no blogs dos prémios,
onde escrevo também várias análises, acerca de vultos da nossa
língua portuguesa e do Brasil, onde
estou muitas vezes.
Neste momento estou em Portugal e mais livre no tempo.
Esse "Prémios" está um link ao cimo e à direita que diz:
"Prémios - clique para ver"
Isto é uma idéia para os convidar
a visitar-me nesse lugar, quando
possível.
Relativamente a Vitorino Nemésio
considero a homenagem muito justa
e muito boa. Parabéns, amigos!
Maria Luísa
Peço desculpa. O tal " link "está no
ResponderEliminarhttp://os7degraus.blogspot.com
o blogs tem o nome:
http://premios-prosa-poetica.blogs.sapo.pt
Mª. Luísa
Que grande conversador....como nos agarrava à caixinha mágica....
ResponderEliminarUm grande curriculo..para uma vida cheia.
Beijo e abraço
Boa noite meus bons amigos!
ResponderEliminarGostei muito desta postagem!
Deixo pra vocês:
trago a enxada com que cavo
dia-a-dia a minha cova
e trago o rio onde lavo
o sal do mar numa trova
Minha viola de luxo
Minha enxada de cantar,
Meu instrumento de fogo,
Caixinha do meu chorar!
Com carinho e o desejo de uma boa noite.
Mara
Caminhei tempos... tempos de realeza
ResponderEliminare te encontrei na Terra com amor...
Pinto letras na tela com mais cor,
e agradeço-lhe por ter tua nobreza!...
Machado de Carlos
Amor & Paz no seu dia...Beijos!
Gracias por permitir que cada visita a vuestra casa sea un encuentro maravilloso con la cultura, y la literatura en una lectura apasionante que me enriquece y llena de placer.
ResponderEliminarUn beso con mi admiración, cariño y amistad... siempre.
Muchas gracias por todas las cosas nuevas que siempre nos enseñáis.
ResponderEliminarBesos dulces.
Argos e Tétis,
ResponderEliminarA literatura portuguesa tem uma dívida para convosco: o facto de não deixarem esquecer os nossos grandes poetas, os nossos grandes escritores.
Beijinho para ambos.
Aos amigos que nos acompanharam na primeira etapa deste passeio, o nosso obrigado e aqui fica o convite para a próxima "jornada" de "descoberta" à obra do Vitorino Nemésio.
ResponderEliminarUm abraço da Tétis e do argos