segunda-feira, 30 de março de 2009

O Lince Ibérico

No jornal “Diário de Notícias” de ontem, uma notícia vem trazer uma réstia de esperança e de alegria a todos aqueles que se preocupam com preservação das espécies ameaçadas, neste caso particular do Lince Ibérico.

Em grandes paragonas, como título da notícia, pode ler-se:

Lince-ibérico reintroduzido em Silves esta Primavera e Andaluzia quer enviar linces ibéricos com urgência.

Seguem-se alguns excertos desta importante notícia:


"No jornal diário espanhol ABC lê-se que o ideal seria "começar a enviar já alguns exemplares de linces ibéricos para Portugal, pois as novas crias vão necessitar nos próximos meses de mais espaço para crescer junto às suas progenitoras".
(…)a trasladação dos linces ibéricos - os felinos mais ameaçados do mundo - para o centro de Silves, no interior do Algarve, se deve efectuar o "mais tardar até antes do Outono", porque os novos partos "podem saturar os três centros de criação em cativeiro existentes em Espanha".
Em 31 de Agosto de 2007 foi celebrado um protocolo entre os ministros do Ambiente de Portugal e Espanha a prever a transferência de linces para Portugal, mas falta agora celebrar um novo protocolo para estabelecer em detalhe o número de linces que vão chegar a Silves e de quem é o material genético.
O acordo tem como objectivo preservar uma espécie animal em vias de extinção do Planeta.
(…)O Centro Nacional de Recuperação do Lince Ibérico em Portugal vai ter capacidade para acolher 16 linces reprodutores, sejam machos ou fêmeas, e as suas crias, mas o número de animais a receber pode ser aumentado.

Cada um dos 16 cercados terá mil metros quadrados com vegetação mediterrânica.
Em Espanha existem cerca de 60 linces ibéricos, criados em cativeiro e que estão distribuídos pelos centros de El Acebuche (Doñana), La Olivilla (Sierra Morena) e no Zoobotánico de Jerez, embora existam outros exemplares em estado selvagem.
Esta Primavera, os três centros de recuperação espanhóis estão, contudo, no limite máximo da capacidade e as autoridades locais da Andaluzia temem que, com a chegada de novas crias de linces, não haja espaço suficiente para todos os animais.

As obras do primeiro Centro Nacional de Recuperação do Lince Ibérico "estão praticamente terminadas"(…), falta a parte dos arruamentos e embelezamento do exterior".
A União Europeia vai disponibilizar ao abrigo do programa Interreg 1,2 milhões de euros para a reintrodução do lince ibérico e, até 2011, os cientistas que trabalhem sobre recuperação do lince ibérico terão 25,6 milhões de euros para aplicar num programa de luta contra o desaparecimento da espécie."


O Lince Ibérico - Felino predador em vias de extinção

Felídeo em perigo de extinção, o Lince Ibérico ou Lynx Pardinus povoou cinco regiões portuguesas: Algarve, Serra da Malcata, Serra de S. Mamede, Vale do Guadiana e Vale do Sado. A faixa sul de Portugal foi a zona de maior ocorrência desta população, ocupando uma área de cerca de 650 quilómetros quadrados entre as serras de Monchique, Caldeirão e Espinhaço de Cão. Actualmente, julga-se que este animal se encontre já extinto no nosso país, havendo apenas alguns exemplares em Espanha.
Em Portugal, a regressão da espécie começou nas décadas de 30 e 40, quando a campanha do trigo reduziu o seu habitat, mas agravou-se nos anos 50, com a diminuição das populações de coelho bravo, as florestações de pinheiros e eucaliptos e os incêndios de Verão. Ameaças que juntamente com a mortalidade causada pelo Homem, culminaram com a sua extinção em Portugal.


Possivelmente já estivemos a dois passos deste animal e fomos minuciosamente observados por ele, sem darmos conta. Invisível por entre a folhagem, o lince-ibérico é um animal que poucas pessoas se podem gabar de já ter visto. Quando o imaginamos, temos logo a tentação de o comparar a um gato, o que não está totalmente errado, já que é fácil encontrar semelhanças, não só físicas mas também de comportamento entre dois felinos. Ambos correm, saltam e surpreendem as presas com uma agilidade admirável, fazendo da caça uma espécie de jogo. Silenciosos e imprevisíveis, têm a habilidade de aparecer e desaparecer sorrateiramente, quase sem darmos por isso. Assim, esta comparação não é desprovida de fundamento, pois quem estuda as relações de parentesco entre os animais chegou à conclusão que estas duas espécies pertencem à mesma família, a dos felídeos. São animais de cabeça redonda e focinho curto, com dentes aguçados, adaptados para cortar a carne. Além disso, têm cinco dedos nos membros anteriores e quatro nos posteriores, que terminam com garras retrácteis, e são digitígrados, ou seja, apoiam-se apenas nas extremidades das patas. Contudo, o lince não é um gato. Quem tiver a sorte de alguma vez se deparar com um lince, notará, de imediato, os invulgares pêlos nas extremidades das orelhas, em forma de pincel, as longas patilhas brancas e negras, bem como a cauda muito curta, com a extremidade escura. Verificará também que os seus membros altos e vigorosos, com patas que parecem desproporcionadamente grandes e os quartos traseiros mais elevados que o resto do dorso, lhe dão um porte altivo e robusto.

O Lince Ibérico pode ter um metro de comprimento, 50 centímetros de altura e pesar mais de 10 quilos, mas a sua distinção assenta em características muito particulares, como a pelagem castanha-amarelada com tons cinzentos e sarapintada com manchas pretas, que lhe permite confundir-se com o meio que o envolve.
Também conhecido como gato-cravo e gato-liberne, o Lynx Pardinus procura abrigo e protecção nos bosques mediterrânicos e nos densos matagais, mas prefere as áreas mais abertas para caçar. A presa de eleição é o coelho bravo, que pode constituir 70 a 90 por cento da sua alimentação, mas consome ocasionalmente pequenos roedores, lebres, cervídeos e algumas aves.

Classe - "Mammalia" (mamíferos)
Ordem – "Carnívora" (carnívoros)
Família – "Felidae" (felídeos)
Género – "Lynx"
Espécie – "Lynx pardinus"
Nomes comuns – lince-ibérico, liberne, cerval, lobo-cerval, gato-cerval, gato-cravo ou gato-lince.

Importante em termos estéticos, culturais e no equilíbrio do ecossistema mediterrânico, o Lynx Pardinus é hoje o felídeo mais ameaçado do mundo. Assim, apesar das normas nacionais e europeias que protegem a espécie e o seu habitat, é dever de todos nós minimizar os factores de perigo que continuam a colocar o Lince-Ibérico à beira da extinção.

sábado, 28 de março de 2009

O Farol adere ao Apagão!...


"Um Farol chamado Amizade" adere ao apagão que dentro de minutos irá ter lugar em 1000 cidades de 75 países.

Nada mais sugestivo para homenagear esta iniciativa do que deixar-vos com "Il Silenzio" interpretado pelo grande Nini Rosso.


sexta-feira, 27 de março de 2009

Mayéutica - Maiêutica - Maïeutique


Mayéutica:

Mayéutica del griego μαιευτικη, por analogía Maya, una de las pléyades de la mitología griega, es una técnica que consiste en interrogar a una persona para hacerla llegar al conocimiento no conceptualizado. La mayéutica se basa en la dialéctica, la cual supone la idea de que la verdad está oculta en la mente de cada ser humano.

La técnica consiste en preguntar al interlocutor acerca de algo (un
problema, por ejemplo) y luego se procede a debatir la respuesta dada por medio del establecimiento de conceptos generales. El debate lleva al interlocutor a un concepto nuevo desarrollado a partir del anterior. Por lo general la mayéutica suele confundirse con la ironía o método socrático y se atribuye erróneamente a Sócrates.


Maiêutica :

Criada por Sócrates no século IV a.C., a maiêutica é o momento do "parto" intelectual da procura da verdade no interior do Homem.
A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum -
"conhece-te a ti mesmo" - põe o Homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude.

A maiêutica é um método que consiste em gerar idéias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro de um contexto (assunto).
Maiêutica é também sinônimo de
obstetrícia, parte da medicina que estuda os fenômenos da reprodução na mulher. Maieuta é o médico que presta assistência à mulher e seu feto no período grávido-puerperal (obstetra).


Maïeutique :

Socrate et la maïeutique,

Il s'inspira du métier de sage femme que sa mère exerçait pour établir sa méthode thérapeutique. Il décida de faire accoucher les esprits comme sa mère faisait accoucher les enfants, il fonda de la sorte la maïeutique ( du grec maieutikê, signifiant : art de l'accouchement) et se défini ainsi comme l'accoucheur de l'esprit humain. Car contrairement à d'autres méthodes, la maïeutique indique que les réponses proviennent de l'intérieur, la personne porte en elle les problèmes et leurs solutions. Faire accoucher l'esprit, signifie faire découvrir à l'autre des vérités qu'il porte en lui mais dont il n'a pas encore accès.

  • Socrate est né en 469 av J.C. à Athènes. Il était le fils d'un ouvrier sculpteur et d'une sage-femme. Socrate ne laissa pas d'écrit de son vivant. On connaît sa vie par le biais de ses disciples et en particulier de Platon qui le mit en scène dans de nombreux textes.


quinta-feira, 26 de março de 2009

Onde me levas, rio que cantei


XXX

Onde me levas, rio que cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me levas?, que me custa tanto

Não quero que me conduzas ao silêncio
de uma noite maior e mais completa,
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta

Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos,
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.

Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra face na vida transbordante.
que seja nessa face que me perca

As mãos e os frutos, Eugénio de Andrade


quarta-feira, 25 de março de 2009

Um brinde à Amizade


Para todos aqueles que ontem estiveram presentes no nosso Farol, na festa Um Brinde à Amizade, e para aqueles que não puderam comparecer, aqui ficam algumas fotos para recordar!...



As mesas com as iguarias que Argos seleccionou!...











O brinde à Amizade!...




Champagne criteriosamente seleccionado por Poseidón!...


E, é claro, não poderia faltar a música. Tétis escolheu o género "Disco" para animar a festa!...


terça-feira, 24 de março de 2009

Feliz Aniversário


Hoje e um dia importante para uma menina muito amiga ( E dia de seu aniversario)


Amiga Tétis,

FELIZ ANIVERSARIO !


o nosso desejo :

Muitas
Felicidades,
Paz, alegria
E muito
Sucesso.
Parabéns


Assinatura : Argos e Poseidón


Telemensagem audio visual de Feliz Aniversário para Tétis



Pasteles ofrecidos por ARGOS

Champagne ofrecido por POSEIDON


Un vaso para todos los amigos


domingo, 22 de março de 2009

Dia Mundial da Água

O Dia Mundial da Água foi criado pela ONU no dia 22 de Março de 1992.



O que é a Água ?

A água é uma substância formada por partículas minúsculas chamadas átomos, que agrupados formam moléculas. A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. Uma única gota de água é constituída por biliões de moléculas de água.

Visto do espaço, o nosso planeta parece um Planeta Azul, coberto na sua maioria por oceanos e mares. A água ocupa 70% da superfície da Terra e os continentes ocupam o resto. Os mares e os oceanos armazenam a quase totalidade da água existente no planeta.
A água está presente em toda a parte do nosso planeta: no ar, nas rochas, nos rios, nos glaciares, nas plantas e até no corpo dos seres vivos… O nosso corpo é, em grande parte, constituído por água.
Cerca de 97% de toda água existente no planeta Terra é água salgada e apenas 3% é água doce. De toda a água existente, apenas 1% está disponível para uso.


O dia 22 de Março de cada ano é assim destinado à discussão e debate sobre os diversos temas relacionadas com este importantíssimo bem natural, sem o qual não existiria vida na Terra.

No dia 22 de Março de 1992, a ONU também divulgou um importante documento: a “Declaração Universal dos Direitos da Água”, que apresenta uma série de medidas, sugestões e informações que servem para despertar a consciência ecológica da população e dos governantes para a questão da água.


Declaração Universal dos Direitos da Água

Art. 1º - A água faz parte do património do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.


Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo o ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem.

Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimónia.

Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.

Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. A sua protecção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.

Art. 6º - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor económico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

Art. 7º - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, a sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas actualmente disponíveis.

Art. 8º - A utilização da água implica o respeito à lei. A sua protecção constitui uma obrigação jurídica para todo o homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos da sua protecção e as necessidades de ordem económica, sanitária e social.

Art. 10º - O planeamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso atendendo à sua distribuição desigual sobre a Terra.

Antes de ser oficialmente criado pela ONU este Dia Mundial da Água, já o Conselho da Europa, consciente da importância da Água e da sua preservação, tinha elaborada em 6 de Maio de 1968 a “Carta Europeia da Água”.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Os Poetas do Parque

TEIXEIRA DE PASCOAES (1877-1952)Parte 2
Pascoaes e o "Saudosismo"

O "Saudosismo", no sentido estrito, é uma atitude perante a vida que, segundo Teixeira de Pascoaes e muitos outros, constitui feição típica da literatura portuguesa, tanto culta como popular, um traço definidor da “alma nacional”. Essa atitude interpretou-a Pascoaes atribuindo à saudade amplas dimensões e profundo significado, arvorando-a mesmo em princípio enformador dum ressurgimento pátrio. O movimento da “Renascença Portuguesa” congregou muitos espíritos animados do desejo de, agindo no plano da cultura, promover a reconstrução do país, minado pelas dissenções políticas que a instituição da República não viera sanar.
A saudade de Pascoaes transcende assim o mero sentimento individual, para assumir uma dimensão ontológica e metafísica. A saudade encarada do ponto de vista existencial leva o autor a conceber a natureza como sagrada, uma vez que a saudade do mundo é também saudade de Deus, de um Deus presente nas próprias coisas. É a divindade que se apropria de si mesma na evolução da natureza, pelo que Pascoaes postula a sacralização da mesma natureza.

Pascoaes encara a saudade como algo que define a especificidade da psicologia étnica portuguesa ao nível dos sentimentos e das emoções, como “o desejo do ser ou da coisa amada, em conjunto com a dor pela sua ausência. Desejo e dor confundem-se num só sentimento” que combina um elemento carnal ou material - o desejo - com um elemento espiritual - a dor - , uma orientação em direcção ao futuro - o desejo como esperança. A saudade será nessa medida, de acordo com Pascoaes, um sentimento contraditório que liga universos tidos usualmente como separados, como o material e o espiritual, o passado e o presente.
Teixeira de Pascoaes, ao lançar as bases do Saudosismo, quer defender a sua pátria de duas decadências: primeiramente, a do cansaço das grandes Descobertas, e, a mais crítica, a decadência de ver o elemento estrangeiro invadir Portugal (o cosmopolitismo), afastando o país da sua verdadeira alma. Segundo Teixeira de Pascoaes, a alma lusíada tem na fusão dos antigos povos que se encontraram na península, a sua origem e, por esta fusão ela se distingue das outras almas pátrias desde o início, por ter um carácter nacional muito rigoroso.
O destino mítico de Teixeira de Pascoaes, encontra-se bem assinalado neste poema, dedicado a Guerra Junqueiro (1850-1923), e onde o poeta incorpora os mitos da sua infância e os difunde na sua própria personalidade. Note-se a presença constante da “saudade”:
Espectros nebulosos
Remotos ascendentes
Emergem na penumbra que flutua
Toda embebida em lua.

E rodeiam-se, tristes, misteriosos.
Neles me perco e me difundo…
Longe da minha idade…
E tudo, para mim, é trágica saudade.


Este destino mítico do poeta sofreu, porém, uma profunda mutação com o surgimento de “alguém” por quem Teixeira de Pascoaes se apaixonou e que iria transmutar o seu destino e o “sentido da sua vida”.
A figura dos seus sonhos e dos seus amores haveria de ser o seu ideal romântico e mítico que Pascoaes haveria de perseguir por toda a sua vida. É a personagem central de Marânus, “a figura de veste branca, cheia de pudor e silêncio, aureolada como um anjo louro e luminoso”, que o poeta associa, uma vez mais, à “saudade”, divinizando-a:

À MINHA MUSA

Senhora da manhã vitoriosa
E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.

Perfil de Luz! Imagem religiosa!
Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redimido.

Mulher perfeita em sonho e realidade.
Aparição divina da Saudade...
Ó Eva, toda flor e deslumbrada!

Casamento da lágrima e do riso;
O céu e a terra, o inferno e o paraíso,
Beijo rezado e oração beijada.

Marânus (1911) é um longo poema de estrutura épico-dramática, protagonizado por personagens de carácter mítico ou lendário, como narrativa alegórica da redenção humana, no seu itinerário de aperfeiçoamento espiritual, buscado quer através do amor quer do conhecimento. É por excelência a obra paradigmática do Saudosismo.
"E não tinha a Saudade a sua origem
Remota neste céu misterioso,
Nesta bela paisagem transcendente?
E a sua origem próxima e sensível
Na alma profunda, mística e vidente
Deste Povo do Mar e da Montanha?"


(In: Marânus, 1911)

Alguns poemas onde está bem patente o "saudosismo" de Teixeira de Pascoaes:
Tristêza

O sol do outomno, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espírito a sorrir...

Eis como a minha vida vae passando
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me fôram sepultando...

E fico mudo, extatico, parado
E quasi sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...

Só a longinqua estrela em mim actua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petreficada esphinge de saudade...

(in "Elegias", 1912)

***

Que saudades eu sinto desta flor,
Que vai murchar!
E desta gota de água e de esplendor,
Um pequenino mundo que é só mar.
E desta imagem que por mim passou
Misteriosamente.
E desta folha pálida e tremente
Que tombou...
Da voz do vento que me deixa mudo,
E deste meu espanto de criança.
Que saudades de tudo eu sinto, porque tudo
É feito de lembrança...

("Versos Pobres", 1949)

***

Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.


Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou-
Em num, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.

("Sempre", 1898/1902)

***

Ao sol-por

Eu canto no crepúsculo... A Tristeza
recorda-me longínqua aspiração,
na qual pressinto a imagem da beleza
que os meus olhos, um dia, alcançarão...

A paisagem, na sombra, sonha e reza...
Seu vulto é de fantástica visão.
Dir-se-á que a impedrenida Natureza
tem lágrimas a arder o coração.

E canto a minha mágoa; vou cantando...
E vou, saudoso e pálido, ficando
mais distante de mim, mais para além...

Nesta melancolia, que é chorar
sem lágrimas, eu vivo a meditar
no que me prende... a terra, o céu, alguém?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai


Para todos os pais da blogosfera e todos os pais do mundo


Feliz Dia do Pai


quarta-feira, 18 de março de 2009

Roberto Carlos - Por ella - Lady Laura - Amigo


Porque la vida es una historia de amor..., quien mejor que ROBERTO CARLOS para decir y cantarlo.


Este video tiene tres músicas que son : “ para siempre”

Dedicadas a :
Todas las mujeres, todas las madres y amigos.

Y porque un mundo sin música no puede ser...

ROBERTO CARLOS-POR ELLA-LADY LAURA-AMIGO







“Aquí pongo unos fragmentos de la letra de estas melodías..”


POR ELLA

Por ella miro siempre el sol desde mi ventana

Por ella aumenta la ilusión en toda mi alma

Por ella me imagino el cielo como un beso eterno

Por ella me pongo a cantar aunque esté sufriendo...


LADY LAURA

Cuando era un niño
Y podia llorar en tus brazos
Y oir tanta cosa bonita En mi aflicción
En momentos alegres Sentado a tu lado reía
Y en mis horas difíciles
Dabas tu corazón


Lady Laura, abrázame fuerte
Lady Laura,, y cuéntame un cuento
Lady Laura, y hazme dormir
Lady Laura....


AMIGO

Tú eres mi amigo del alma
En toda jornada
Sonrisa y abrazo festivo
A cada llegada
Me dices verdades tan grandes
Com frases abiertas
Tú eres realmente el más cierto
De horas inciertas

No preciso ni decir
Todo eso que te digo
Pero es bueno así sentir
Que eres tú mi gran amigo...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Skrik ("O Grito") - Edvard Munch

Muitos perguntarão o porquê deste post. Outros formularão até esta pergunta: “mas a que propósito vem agora este post que nada tem a ver com o resto?”
Pois é, este blog é isso mesmo, é o imprevisto, a diversidade e, acima de tudo, como já tantas vezes dissemos, um reflexo dum estado de alma, duma vivência, enfim, do que nos vem à cabeça…

Mas Skrik (“O Grito”) de Edvard Munch, porquê?

Muito simples: um dos amigos deste blog escreveu uma mensagem/resposta a um comentário meu, mais precisamente no dia 14/3, onde dizia, entre outras coisas: “…Quanto ao teu “grito”…”. Imediatamente associei grito a Munch e recordei esta maravilha que tive a sorte/oportunidade única de ver “ao vivo” numa exposição temporária, em 2004, no Musée d’Ixelles, em Bruxelas.


Um pouco sobre Edvard Munch

Edvard Munch foi um pintor norueguês, precursor do expressionismo alemão, que nasceu em Loten, a 12 de Dezembro de 1863 e faleceu em Ekely, a 23 de Janeiro de 1944.
Tendo frequentado a Escola de Artes e Ofícios de Oslo, foi influenciado por Courbet e Manet e, no campo das ideias, pelo pensamento de Henrik Ibsen e Bjornson, que marcaram o seu percurso inicial de pintor. A arte era deste modo vista pelo pintor como uma arma destinada a lutar contra a sociedade, daí os temas sociais aparecerem presentes nas suas obras de 1886, nomeadamente em "O Dia Seguinte" e "Puberdade".
Os sentimentos sobre a doença e a morte, que tanto marcaram a sua infância (a mãe morreu quando ele tinha 5 anos, a irmã mais velha faleceu aos 15 anos, a irmã mais nova sofria de doença mental e uma outra irmã morreu meses depois de casar; o próprio Edvard estava constantemente doente), assumem grande importância na sua obra e são retratados em imagens que deixam transparecer a fragilidade e a transitoriedade da vida. É com "A Menina doente" ("Das Kränke Mädchen"), de 1885 que Munch inicia essa temática que será a linha de força constante em todo o seu percurso artístico.
Embora as obras de Van Gogh e Gaugin tenham provocado algumas mudanças no seu estilo é, porém, o convite que lhe foi formulado em 1892 para expor em Berlim que marcará uma etapa importante na sua carreira. É nessa época que Munch inicia o projecto intitulado "O Friso da Vida", série esta de que faz parte "O Grito", considerado a sua obra máxima. Rostos sem feições e figuras distorcidas fazem parte dos quadros desta série e um pouco de toda a sua obra.
Em 1896, em Paris, interessa-se pela gravura, fazendo inovações nesta técnica. Os trabalhos deste período revelam uma segurança notável. Em 1914 inicia a execução do projecto para a decoração da Universidade de Oslo, usando uma linguagem simples, com motivos da tradição popular.
Uma das características mais interessantes de Munch é a forma como retrata as mulheres, ora como sofredoras frágeis e inocentes ("Puberdade" e "Amor e Dor"), ora como causa de grande anseio, ciúme e desespero ("Separação", "Ciúmes" e "Cinzas").
As suas últimas obras ("Entre o Relógio e a Cama" e "Auto-Retrato", de 1940) pretendem ser um resumo das preocupações da sua existência.
Toda a obra de Munch está impregnada pelas suas obsessões: a morte, a solidão, a melancolia e o terror das forças da natureza.

“Skrik” (“O Grito”)

Esta pintura, datada de 1893, é considerada como uma das obras mais importantes do expressionismo, tendo adquirido o estatuto de ícone cultural. Representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero, tendo como pano de fundo a doca de Oslofjord ao pôr-do-sol.
Na vida pessoal de Munch, nas suas obsessões, encontramos a inspiração para “O Grito”. Têm sido várias as interpretações deste quadro mas ninguém melhor do que o próprio pintor para descrever a experiência que teve e que o levou a pintar esta sua obra-prima: “Caminhava eu com dois amigos pela estrada ao pôr-do-sol; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.”
Munch imortalizou primeiramente esta impressão no quadro "O Desespero", que representa um homem de cartola e meio de costas, inclinado sobre uma vedação num cenário em tudo semelhante à da sua experiência pessoal. Não satisfeito com o resultado, Munch tentou uma nova composição, desta vez com uma figura mais andrógina, de frente para o observador e numa atitude menos contemplativa e mais desesperada.
O quadro foi exposto pela primeira vez em 1903, como parte de um conjunto de seis peças, intitulado Amor. A ideia de Munch era representar as várias fases de um caso amoroso, desde o encantamento inicial a uma rotura traumática. "O Grito" representava a última etapa, envolta em sensações de angústia. A recepção foi, contudo, muito criticada e o conjunto Amor considerado como arte demente (mais tarde, o regime nazi viria a classificar Munch como artista degenerado e retirou toda a sua obra em exposição na Alemanha).
Porém, a reacção do público, foi a oposta e o quadro tornou-se um motivo de sensação. O nome "O Grito" surge pela primeira vez nas críticas e reportagens da época. Munch acabaria por pintar quatro versões de "O Grito", para substituir as cópias que ia vendendo. O original de 1893 (91x73.5 cm), numa técnica de óleo e pastel sobre cartão, encontra-se exposto na Galeria Nacional de Oslo. A segunda (83,5x66 cm), em têmpera sobre cartão, foi exibida no Munch Museum de Oslo até ao seu roubo em 2004. A terceira pertence ao mesmo museu e a quarta é propriedade de um particular. Para responder ao interesse do público, Munch realizou também uma litografia, em 1900, que permitiu a impressão do quadro em revistas e jornais.

Os roubos

"O Grito", da Galeria Nacional de Oslo, foi roubado em plena luz do dia, a 12 de Fevereiro de 1994, por um conjunto de ladrões que se deu ao trabalho de deixar uma mensagem que dizia: "Obrigado pela falta de segurança". Três meses depois, os assaltantes enviaram um pedido de resgate ao governo norueguês, exigindo um milhão de dólares americanos. As entidades norueguesas recusaram a exigência e pouco depois, a 7 de Maio, o quadro foi recuperado numa acção conjunta da polícia local com a Scotland Yard.
A 22 de Agosto de 2004, foi a vez da versão exposta no Munch Museum, roubada num assalto à mão armada que levou também a "Madonna" do mesmo autor. O Museu ficou à espera de um pedido de resgate, que nunca chegou. A polícia norueguesa anunciou ter reencontrado os quadros a 31 de Agosto de 2006.

sábado, 14 de março de 2009

Arthur Rimbaud


Que tal si continuamos navegando, para después de la poesía Portuguesa llegar a la poesía Francesa de Arthur Rimbaud.


Arthur Rimbaud (Jean Nicolas Arthur Rimbaud) est un poète français, né le 20 octobre 1854 à Charleville, dans les Ardennes, et mort le 10 novembre 1891 à l'hôpital de la Conception à Marseille.


Sensation


Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue:
Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien:
Mais l'amour infini me montera dans l'âme,
Et j'irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la Nature, - heureux comme avec une femme.

Arthur Rimbaud


En español :

Iré, cuando la tarde cante, azul, en verano,
herido por el trigo, a pisar la pradera;
soñador, sentiré su frescor en mis plantas
y dejaré que el viento me bañe la cabeza.
Sin hablar, sin pensar, iré por los senderos:
pero el amor sin límites me crecerá en el alma.
Me iré lejos, dichoso, como con una chica,
por los campos , tan lejos como el gitano vaga.
Marzo de 1870

Jean Louis Aubert chante :
Sensation







Saison en Enfer

Jadis, si je me souviens bien, ma vie était un festin où s'ouvraient tous les coeurs, où tous les vins coulaient.


Un soir, j'ai assis la Beauté sur mes genoux. - Et je l'ai trouvée amère. - Et je l'ai injuriée.

Je me suis armé contre la justice.

Je me suis enfui. O sorcières, ô misère, ô haine, c'est à vous que mon trésor a été confié !

Je parvins à faire s'évanouir dans mon esprit toute l'espérance humaine. Sur toute joie pour l'étrangler j'ai fait le bond sourd de la bête féroce.

J'ai appelé les bourreaux pour, en périssant, mordre la crosse de leurs fusils. J'ai appelé les fléaux, pour m'étouffer avec le sable, avec le sang. Le malheur a été mon dieu. Je me suis allongé dans la boue. Je me suis séché à l'air du crime. Et j'ai joué de bons tours à la folie.

Et le printemps m'a apporté l'affreux rire de l'idiot.

Or, tout dernièrement, m'étant trouvé sur le point de faire le dernier couac ! j'ai songé à rechercher la clef du festin ancien, où je reprendrais peut-être appétit.

La charité est cette clef. - Cette inspiration prouve que j'ai rêvé !

"Tu resteras hyène, etc..." se récrie le démon qui me couronna de si aimables pavots. "Gagne la mort avec tous tes appétits, et ton égoïsme et tous les péchés capitaux.

" Ah ! j'en ai trop pris : - Mais, cher Satan, je vous en conjure, une prunelle moins irritée ! et en attendant les quelques petites lâchetés en retard, vous qui aimez dans l'écrivain l'absence des facultés descriptives ou instructives, je vous détache des quelques hideux feuillets de mon carnet de damné.

Rimbaud "Saison en Enfer"




(Arthur Rimbaud cuando escribió una temporada en el Infierno tenía tan solo 16 años ..
Fallecio muy joven con tan solo 37 años.)

"Muere lentamente quien no viaja... Il meurt lentement celui qui ne voyage pas, Celui qui ne lit pas, Celui qui n'écoute pas de musique, ..."

"Prémio Carmim"


O nosso sincero agradecimento ao blog “Utopie Calabresi” - http://utopiecalabresi.blogspot.com - que nos distinguiu com o "Prémio Carmim".

Como se comportam os prêmios:

“Com o Prêmio se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc, que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.”

Os agraciados devem seguir algumas pequenas regras; são elas:
1 - Colocar a imagem do selo no seu blog, (opcional);
2 - Linkar a pessoa que te indicou;
3 - Indicar mais 10 pessoas ao prêmio;
4-Comentar no blog dos indicados sobre esta postagem.

Indicamos estes 10 blogs para receber o prémio:

Impulsos - http://calenturasfrescas.blogspot.com
Andradarte - http://andradarte.blogspot.com
Blogcronicasdateresa - http://blogcronicasdateresa.blogspot.com
Momentos meus - http://isa-momentosmeus.blogspot.com
Sou Pó e Luz - http://soupoeluz.blogspot.com
La Habitación de los Maniquíes - http://impaledboy.blogspot.com
Athanor de Letras - http://opusmagnumletras.blogspot.com
Os Bonecos do Sineiro - http://osbonecosdosineiro.blogspot.com/
Alma Poeta -
http://serenaflor1964.blogspot.com
Un Mundo Animal - http://huellasdecuatropatas.blogspot.com/

Parabéns aos premiados!...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Poesia feminina

Ainda no “rescaldo” do Dia Internacional da Mulher, uma pequenina viagem pela poesia feminina…



A uma suspeita


Amor, se uma mudança imaginada
É com tanto rigor minha homicida,
Que fará, se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?

Se só por ser de mim tão receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que fará, se chegar a ser sabida?
Que fará, se passar de suspeitada?

Porém, já que me mata, sendo incerta,
Somente o imaginá-la e presumi-la,
Claro está, pois da vida o fio corta.

Que me fará depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.

Soror Violante do Céu (1601-1693)



Amiga

Deixa-me ser a tua amiga,Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim?O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Florbela Espanca (1894-1930)



E de novo a armadilha dos abraços

É de novo a armadilha dos abraços.
É de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
A pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
No altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
De novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
Teço um colar de gritos e silêncios
A ecoar no som dos precipícios.
E tudo que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre de novo
O Amor total dos deuses e dos bichos."


Rosa Lobato Faria (n. 1932)



Mas existe de facto uma poesia feminina, um sentir diferente?
Será a poesia condicionada pelo facto de pertencermos a este ou aquele sexo?
Seja qual for a nossa opinião, julgo que numa coisa estamos de acordo, as mulheres sempre souberam utilizar a poesia como “arma” para a sua emancipação num mundo dominado pelos homens.

terça-feira, 10 de março de 2009

Os Poetas do Parque

TEIXEIRA DE PASCOAES (1877-1952)
Parte 1

Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nasceu em 1877, em Amarante, no seio de uma família aristocrática. Dois anos mais tarde a família muda-se para a antiga casa senhorial de Pascoaes (donde adoptou o nome), em São João de Gatão, arredores de Amarante.
É aí que habitará a maior parte da sua vida e onde acabará por falecer em 1952.

Foi uma criança solitária, sensível e muito propensa à contemplação da natureza.
Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra mas só exerceu a advocacia por um período de dez anos, ocasionalmente e a contra gosto. Sobre esta experiência dirá:
"Eu era um Dr. Joaquim na boca de toda a gente. Precisava de honrar o título. Entre o poeta natural e o bacharel à força, ia começar um duelo que durou dez anos, tanto como o cerco de Tróia e a formatura de João de Deus. Vivi dez anos, num escritório, a lidar com almas deste mundo, o mais deste mundo que é possível – eu que nascera para outras vivências".
Teixeira de Pascoaes foi um pensador, prosador, mas fundamentalmente poeta.
Foi um dos principais obreiros da revista "A Águia" e do movimento cultural "Renascença Portuguesa". É neste contexto que aparece como grande "teorizador", “mentor” do Saudosismo (a experiência da dor pelo homem saudoso. Por ela, o homem – poeta entende o mundo como "uma eterna recordação", percebendo a realidade como evocadora de uma outra realidade mais real que aquela).

A sua obra é vasta, datando as primeiras contribuições poéticas de 1894 e o seu primeiro livro " Embryões" (que será repudiado pelo autor) é publicado um ano mais tarde, aos 18 anos. Mas é com o livro de poemas "Sempre" (1898), que se afirma definitivamente como um grande poeta. Nesse livro, o seu lirismo apresenta-se profundamente mergulhado nas entranhas da terra que o viu nascer: a serra do Marão e o rio Tâmega.
Não podemos entender a obra de Teixeira de Pascoaes sem a reflexão dessa sua ligação à terra mãe. Em todos os seus escritos se percebe a atitude telúrica do poeta pensador!
Em Portugal, a obra de Pascoaes é lida com admiração pela elite intelectual da época, desde Fernando Pessoa a Sá-Carneiro, Alexandre O'Neill, Eugénio de Andrade e muitos outros. Durante esse período, Teixeira de Pascoaes torna-se o escritor português mais traduzido e é louvado por escritores como Garcia Lorca e Unamuno.


Essencialmente poeta, em toda a sua obra se manifesta um vidente que passou a vida a dialogar com a realidade que está para além das coisas e dos homens. Pelo vulcanismo intermitente de seu lirismo cósmico e pela profundidade de suas intuições angustiantes, servidas por uma inesgotável imaginação, é um dos vultos mais significativos de toda a literatura portuguesa.
Se tivéssemos que definir o autor numa só frase (o que seria impossível), talvez fosse esta a mais adequada: "Pascoaes, sendo poeta, foi, antes do mais, um estado de espírito".



Três poemas de 3 períodos e fases da vida de Teixeira de Pascoaes:

Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou-
Em num, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.

"Sempre" (1898/1902)

V

O poeta é um doido errando sempre além,
Que d'este mundo, em vida, se desterra...
É o ser divino e pálido que tem
Na alma toda a luz, no corpo toda a terra.

de "Cantos Indecisos" (1921)

Paraísos

Temos dois paraísos: o da infância
E o da velhice;
O da flor e o do fruto,
O da loucura e o da razão.
O Jardim e o Pomar,
A Primavera, Deusa helénica,
O Outuno, Deus da Ibéria.
O resto é Inverno até à Gronelândia
E Verão até ao Cabo.

de "Últimos Versos" (1952)