Um mapa geológico elaborado por cientistas britânicos mostra que o continente
africano está sobre uma vasta reserva de águas subterrâneas. As bolsas agora
mapeadas situam-se sobretudo a norte, podendo dar de beber a mais de 300
milhões de africanos que vivem actualmente sem água potável.
Segundo os cientistas, os aquíferos subterrâneos têm um volume de água
total 100 vezes superior à água encontrada na superfície, ascendendo a meio
milhão de quilómetros cúbicos, o que equivale a vinte vezes o volume de
precipitação anual em toda a África.
Cerca de metade dos principais aquíferos localizam-se no subsolo da Líbia,
Argélia e Chade. As condições climáticas que transformaram o norte de África no
Deserto do Saara demonstram que as bacias sedimentares receberam água pela
última vez há 5.000 anos. Dada a lentidão com que os aquíferos são renovados, a
sobre-exploração da água poderá esgotar rapidamente as reservas, sobretudo em
locais desérticos ou em épocas de seca.
Foram encontradas também grandes reservas nas costas da Mauritânia,
Senegal, Gâmbia e parte da Guiné-Bissau, assim como no Congo e na região
limítrofe entre a Zâmbia, Angola, Namíbia e Botswana.
Em muitas zonas áridas e semi-áridas do continente africano seria possível
extrair facilmente água destas reservas, dado que se localizam, em muitos casos,
a menos de 25 metros de profundidade. Já nalguns países do norte, como a Líbia,
as reservas estão a mais de 250 metros de profundidade, o que implicaria uma
infraestrutura mais cara e complexa.
É no Corno de África onde se encontram os aquíferos mais pequenos, mas
ainda assim com uma quantidade suficiente para o consumo humano e para uma
extracção pouco dispendiosa através de poços, uma vez que, dada a boa qualidade
dessa água, não seria necessário grande investimento no seu tratamento.
Apesar destes resultados animadores, os cientistas alertam para o facto de que
uma exploração desregrada desta vasta riqueza hídrica pode esgotá-la
rapidamente.
Assim, os
autores deste estudo consideram inviável a construção de grandes metrópoles
aproveitando estes grandes aquíferos, até porque são escassos os locais onde se
poderão instalar furos de grande extracção, concentrando-se apenas nos
territórios do Egipto, do Sudão e do Senegal.
Pelo
contrário, dizem, em quase todo o continente podem ser instalados furos de
pequena extracção: "Para muito países africanos, furos localizados e
desenvolvidos de forma apropriada permitem extração através de bombas de água (fornecendo
de 0.1 a 0.3 litros por segundo) e as reservas são suficiente para sustentar
essa exploração ao longo das variações anuais de reposição da água".
Como apenas 5%
das terras aráveis de África são irrigadas, este novo estudo poderá mudar esta
situação e auxiliar as populações mais afectadas pela seca, recorrente e cada
vez mais agravada pelas alterações climáticas.
O estudo, elaborado pelo British Geological Survey em colaboração com a
University College London, é a primeira investigação que abrange todas as
reservas de águas subterrâneas do continente africano. Para ele contribuiram os
planos hidrológicos elaborados por diferentes países de África, bem como os
resultados de 283 estudos regionais anteriores. Este estudo deu origem a uma
série de mapas publicados na revista científica “Environmental Research
Letters”.
Fonte principal: El Mundo, 20/04/2012