domingo, 25 de outubro de 2020

Só quando vem a noite...

 


Só quando vem a noite, de algum modo sinto, não uma

alegria, mas um repouso que, por outros repousos serem

contentes, se sente contente por analogia dos sentidos. Então

o sono passa, a confusão do lusco-fusco mental, que esse

sono dera, esbate-se, esclarece-se, quase se ilumina. Vem,

um momento, a esperança de outras coisas. Mas essa esperança

é breve. O que sobrevém é um tédio sem sono nem esperança,

o mau despertar de quem não chegou a dormir. E

da janela do meu quarto fito, pobre alma cansada de corpo,

muitas estrelas; muitas estrelas, nada, o nada, mas muitas

estrelas... 

(Fernando Pessoa, “Livro do Desassossego”)


3 comentários:

  1. Um prazer ler Fernando Pessoas
    E dá o que pensar
    Beijinhos querida Tétis

    ResponderEliminar
  2. Un placer visitarte Tétis, el no poder dormir puede traer un limbo total.

    Abrazos.

    ResponderEliminar

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