No entardecer dos dias de Verão...
No
entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda
que não haja brisa nenhuma, parece
Que
passa, um momento, uma leve brisa...
Mas
as árvores permanecem imóveis
Em
todas as folhas das suas folhas
E
os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram
a ilusão do que lhes agradaria...
Ah!,
os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos
nós como devíamos ser
E não
haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia
sentir com clareza e vida
E
nem repararmos para que há sentidos...
Mas
Graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque
a imperfeição é uma coisa,
E
haver gente que erra é original,
E
haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se
não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E
deve haver muita coisa
Para
termos muito que ver e ouvir...
“O Guardador de Rebanhos”.
In: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa