Nada
tão silencioso como o tempo
no
interior do corpo. Porque ele passa
com
um rumor nas pedras que nos cobrem,
e
pelo sonoro desalinho de algumas árvores
que
são os nossos cabelos imaginários.
Até
nas íris dos olhos o tempo
faz
estalar faíscas de luz breve.
Só
no interior sem nome do nosso corpo
ou
esfera húmida de algum astro
ignoto,
numa órbita apartada,
o
tempo caladamente persegue
o
sangue que se esvai sem som.
Entre
o princípio e o fim vem corroer
as
vísceras, que ocultamos como a Terra.
Trilam
os lábios nossos, à semelhança
das
musicais manhãs dos pássaros.
Mesmo
os ouvidos cantam até à noite
ouvindo
o amor de cada dia.
A
pele escorre pelo corpo, com o seu correr
de
água, e as lágrimas da angústia
são
estridentes quando buscam o eco.
Mas
não sentimos dentro do coração que somos
filhos
dilectos do tempo e que, se hoje amamos,
foi
depois de termos amado ontem.
O
tempo é silencioso e enigmático
imerso
no denso calor do ventre.
Guardado
no silêncio mais espesso,
o
tempo faz e desfaz a vida.
(Fiama Hasse Pais Brandão)