"Estamos na lista dos países que não cumprem a Convenção para a Biodiversidade porque nunca elaborámos um Livro Vermelho das Plantas, um documento essencial para identificar as espécies vegetais mais ameaçadas e desenvolver planos de gestão apropriados para a conservação no território nativo e fora dele."
“A conversão das florestas em explorações agrícolas intensivas, incêndios, espécies exóticas e alterações climáticas são alguns dos factores críticos para a sobrevivência das plantas.”
“O relatório final da primeira fase do Plano Nacional de Conservação da Flora em Perigo, que tem como objectivo contribuir para a sua preservação... indica que sete destas espécies só existem em Portugal: Corriola do Espichel (Convolvulus fernandesii), Linaria ricardoi, Narciso do Mondego (Narcisus scaberulus), Miosótis-das-praias (Omphalodes kuzinskyanae), Diabelha do Algarve (Plantago algarbiensis), Diabelha do Almograve (Plantago almogravensis) e Álcar do Algarve (Tuberaria major). A oitava planta, conhecida como Trevo-de-quatro-folhas (Marsilea quadrifolia), existe em vários países, mas tem vindo a regredir em Portugal.”
Vamos agora tentar saber um pouco mais destas espécies da flora portuguesa, com dados extraídos das brochuras do ICN – “Plano Nacional de Conservação da Flora em Perigo”.
Corriola do Espichel (Convolvulus fernandesii)
É um arbusto ramificado de flores brancas. Habita fendas de afloramentos calcá
rios e substratos instáveis ao longo das arribas com exposição predominantemente Sul. A floração decorre de Fevereiro a Junho.
Do ponto de vista filogenético, esta espécie está mais próxima das espécies da região macaronésica do que das espécies continentais do mesmo género. Este facto, associado à sua distribuição geográfica restrita a locais com um microclima marcado e ao carácter macaronésico das espécies que a acompanham (Fagonia cre
tica, Lavatera maritima, entre outras), faz supor que se trata de um neo-endemismo de origem macaronésica.
Tal como em muitas outras zonas do litoral português, a área de ocorrência está sujeita a intensas pressões de origem antropogénica, como actividades turísticas, de lazer e crescimento urbano.
Os núcleos mais extensos e com maior densidade populacional localizam-se junto ao Cabo Espichel, na zona recentemente abrangida pelo alargamento do Parque Natural da Arrábida.
Linaria Ricardoi
Herbácea endémica de Portugal continental associada aos ecossistemas agrícolas do Baixo Ale
ntejo. É uma planta anual, de folhas lineares e carnudas, com a margem um tanto enrolada. As inflorescências formam um cacho com cerca de 17 flores, de corola pequena (9-12 mm) e cor violácea. A floração e frutificação desta espécie decorrem entre Fevereiro e Junho.
Está associada às comunidades de infestantes n
as culturas cerealíferas de Outono/Inverno, sobretudo do trigo e mais raramente da cevada. No entanto, pode ocorrer também em zonas ruderais, nomeadamente em taludes e bermas de caminhos na vizinhança das searas. Os núcleos actualmente conhecidos encontram-se em olivais, em montados ou na berma de caminhos, provavelmente porque estas áreas estão sujeitas a menos aplicações de herbicidas.
A aplicação de herbicidas tem sido apontada como a principal causa da redução da área de distribuição desta espécie.
A sua área de distribuição abrange sobretudo o Baixo Alentejo Interior, na zona envolvente às localidades de Redondo, Ferreira do Alentejo, Serpa, Cuba, Alvito e Beja.
Narciso do Mondego (Narcissus scaberulus)
É um
a planta bolbosa, com duas a sete flores amarelas. O período de floração é muito curto, decorrendo de Fevereiro a Abril em função das condições climatéricas. Esta espécie ocorre geralmen
te em áreas abertas e clareiras florestais e apenas em substratos graníticos.
O factor de ameaça mais relevante consiste na eventual expansão das florestas de produção de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e, em menor grau, de eucalipto (Eucalyptus globulus), que alterem as condições de luz e de solo necessárias ao desenvolvimento da espécie.
Esta espécie distribui-se no troço montante da Bacia Hidrográfica do Rio Mondego.
Miosótis das Praias (Omphalodes kuzinskyanae)
Planta anual de pequenas dimensões (6 a 20cm) e flores branco-azuladas. A germinação
tem início em Novembro e prolonga-se até Fevereiro ou Março. A época de floração decorre de Março a Junho. O período de frutificação coincide parcialmente com o período de floração e a maioria das plantas morre antes de Julho.
O pisoteio e a pressão imobiliária são os factores de ameaça mais importantes para a conservação da espécie. Os efeitos directos dos incêndios manifestam-se através da destruição das plantas e eventualmente das sementes. A nitrificação dos solos é um outro factor de ameaça.
A área de distribuição da espécie é muito r
estrita. As populações conhecidas estão incluídas na sua totalidade na área do Parque Natural de Sintra-Cascais. Nesta área, a espécie encontra-se em zonas com condições ecológicas variadas, desenvolvendo-se em dunas consolidadas, junto ao mar, assim como no topo das arribas costeiras em solos calcários, graníticos ou de areia. A espécie mostra, no entanto, uma clara preferência por solos arenosos e locais ensombrados.
Diabelha do Algarve (Plantago algarbiensis)
Planta
vivaz, arroselada, com toiça lenhosa raramente dividida em duas. As folhas são lineares e agudas. Floresce de Maio a Agosto. Ocorre em solos argilosos, por vezes sujeitos a encharcamento temporário. Prefere zonas a jusante de pequenas nascentes de água ou clareiras de matos baixos acidófilos. É de salientar o comportamento ruderal da espécie em depósitos de entulhos resultantes das explorações de argilas. 
Dado que é uma espécie rara e de distribuição geográfica restrita, o risco de ocorrências catastróficas de origem humana ou natural ou simplesmente de fenómenos biológicos e populacionais imprevisíveis, constituem um dos principais factores de ameaça à sua conservação. A estes factores acrescenta-se o crescimento urbano acelerado nas áreas onde se localizam as populações, e a sua proximidade às unidades de extracção de argila.
Actualmente são conhecidos três núcleos de distribuição geográfica desta espécie, estando um deles inserido no Sítio do Barrocal Algarvio.
Diabelha do Almograve (Plantago almogravensis)
É um
arbusto de pequenas dimensões, com forma almofadada, de ramos curtos que terminam em rosetas foliares estreladas. As folhas são lineares e bicudas.
Esta espécie ocorre na faixa costeira, em solos arenosos pouco desenvolvidos com elevado teor em argila e ferro. Coloniza as clareiras de matos litorais, ocupando locais com água disponível nas camadas sub-superficiais do solo o Inverno e a Primavera.
Trata-se de uma espécie muito rara e de distr
ibuição geográfica restrita, pelo que o risco de extinção devido a catástrofes de origem humana ou natural, é elevado.
A aplicação de agro-químicos, a passagem de viaturas e o pisoteio constituem factores directos de ameaça para além dos incêndios.
Actualmente só persiste uma população desta espécie, situada na proximidade de Vila Nova de Milfontes, inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Alcar do Algarve (Tuberaria major)
Planta vivaz de pequenas dimensões, com toiça lenhosa ramificada e folhas dispostas na base do caule. As flores são amarelas e apresentam-se em cimeiras terminais. Prefere solos arenosos, ácidos e ocorre em clareiras de matos adaptados a condições de secura (xerófilos). A floração e a frutificação decorrem de Fevereiro a Maio.
A crescente pressão urbana, comum a todo o
litoral algarvio, constitui o factor de ameaça mais relevante para a espécie. De facto, a maioria dos núcleos conhecidos está ameaçada por novos projectos urbanísticos.
Distribui-se ao longo do litoral algarvio, abrangendo os concelhos de Faro, Olhão e Loulé. Parte da área de distribuição está incluída no Parque Natural da Ria Formosa e no Sítio do Barrocal Algarvio.
Trevo-de-quatro-folhas (Marsilea quadrifolia)
É um feto semi-aquático que se assemelha a um trevo, apresentando folhas compostas por quatro folíolos. Habita locais, periódica ou permanentemente, inundados, margens de rios ou reentrâncias fluviais onde a velocidade da água é moderada.
Em Portugal as principais causas de regressão foram o aterro de charcas, a regularização das margens fluviais, a co
mpetição com espécies aquáticas invasoras, a edificação de barragens com a consequente regularização de canais, a alteração das técnicas culturais do arroz e a poluição dos cursos de água por efluentes domésticos e industriais.
Actualmente distribui-se, em Portugal, no Rio Douro, próximo da foz do Rio Corgo.
Os cientistas e investigadores que estudam a fundo a questão da biodiversidade são unânimes em considerar que nunca foi tão elevada a taxa de extinção de espécies, desde o desaparecimento dos dinossauros.
A situação actual da perda da biodiversidade é bem mais dramática do que aquela que na realidade se conhece. Basta pensarmos que dos aproximadamente 14 milhões de espécies que habitam o nosso planeta, apenas 13% estão estudadas e descritas pelos cientistas.
Embora hoje em dia já se comece a ter uma consciência global sobre a importância da biodiversidade para o futuro da Humanidade, a crescente pressão do Homem sobre os recursos naturais vai inevitavelmente aumentar a taxa de extinção.
Assim, teremos de ser todos e cada um de nós a tomar medidas e acções urgentes e concretas para que o futuro da Humanidade e do nosso planeta não continuem a caminhar a passos largos para a degradação e a catastrófica extinção.
